Título: Só 18,3% dos desempregados são qualificados
Autor: Paul, Gustavo
Fonte: O Globo, 08/11/2007, Economia, p. 31

Pesquisa do Ipea mostra que sobram vagas nas regiões Norte, Sul e Centro-Oeste e faltam no Sudeste e no Nordeste.

BRASÍLIA. Do total de 9,1 milhões de trabalhadores desempregados no país, 1,7 milhão, ou apenas 18,3%, são profissionais qualificados, com experiência profissional e escolaridade. A grande maioria desse grupo, porém, poderia estar empregada se morasse nas regiões Norte, Sul ou Centro-Oeste ou tivesse outra qualificação profissional. Nessas regiões há vagas sobrando para profissionais qualificados e com experiência profissional, enquanto sobram trabalhadores no Sudeste e Nordeste. Essa é a principal constatação da primeira pesquisa sobre demanda e perfil dos trabalhadores formais do país, divulgada ontem pelo Instituto de Pesquisa Econômica Aplicada (Ipea).

O levantamento revela ainda que a indústria e o comércio têm carência de mão-de-obra qualificada, ao mesmo tempo em que sobram trabalhadores na construção civil, agropecuária e serviços. Coordenado pelo economista e presidente do Ipea, Márcio Pochmann, o estudo mostra que existem 424.083 trabalhadores disponíveis no comércio para 430.833 vagas existentes, o que dá uma sobra de 6.750 postos. Na indústria, o número de trabalhadores disponíveis soma 329.035, para 445.628 postos, o que representa um déficit de 116.594 trabalhadores.

Para Pochmann, é preciso repensar políticas de emprego

Em termos nacionais, as indústrias que mais demandam pessoal são as de ponta, como química (25.353 vagas não supridas), produtos de transportes (23.945), produtos mecânicos (21.444), extrativa-mineral (20.846) e produtos minerais metálicos (15.746). Por outro lado, a indústria de produtos de madeira e mobiliário tem 27.710 trabalhadores sobrando e a de produtos minerais não-metálicos vê a sobra de 9.673. Apesar do crescimento dos últimos meses, a construção civil não consegue absorver um exército de 76.161 trabalhadores, a agropecuária outras 75.864 pessoas e o setor de serviços, mais 55.340.

Para Pochmann, a pesquisa evidencia que é preciso repensar as políticas de emprego no Brasil. Segundo ele, é paradoxal que faltem trabalhadores qualificados em um quadro de excedente de mão-de-obra. O "apagão de mão-de-obra" no país foi o tema da série de reportagens publicada pelo GLOBO na semana passada.

- Não precisamos importar trabalhadores para suprir a demanda de determinados setores, mas qualificá-los e treiná-los para suprir as vagas existentes. Temos trabalhadores da indústria que poderiam estar disponíveis para outros segmentos da indústria.

Essa discrepância varia de acordo com as regiões. Sobram vagas para trabalhadores qualificados nas regiões Norte (29.091 vagas abertas), Sul (26.335) e Centro-Oeste (13.447). Nas demais regiões, há um número excessivo de qualificados sem ocupação. No Sudeste, existem 17.868 trabalhadores à espera de oportunidades. No Nordeste a situação é mais grave, pois 135.026 estão sem perspectivas de vagas. Como este ano a previsão é a geração de 1,592 milhão de vagas com carteira assinada e um contingente de 1,676 milhão de profissionais qualificados sem emprego, restaria um contingente de apenas 84 mil trabalhadores sem possibilidade de absorção imediata.

Uma alternativa seria melhorar o sistema nacional de formação e qualificação profissional, composto por Senai e Senac, e as escolas técnicas. Outra opção seria criar um sistema nacional de informação, para deslocar trabalhadores para onde há demanda, afirma Pochmann.

A pesquisa mostrou ainda o perfil médio do trabalhador procurado pelos empregadores brasileiros em todos os setores. Em média, têm mais chances o trabalhador homem, branco, com idade entre 31 e 37 anos, com curso médio e com remuneração entre R$640 (para a indústria têxtil e de calçados) e R$1.916 (para o setor financeiro).

- Temos que quebrar a tendência, estabelecendo políticas que incentivem a absorção de trabalhadores com outros perfis - diz o presidente do Ipea.