Título: Euro sobe e bate novo recorde frente ao dólar
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Fonte: O Globo, 08/11/2007, Economia, p. 32

Possibilidade de a China reduzir participação da moeda americana em reservas puxa a alta. Bovespa cai 1,55%.

RIO, NOVA YORK e PEQUIM. A economia americana voltou a ditar o ritmo do mercado ontem. Rumores de que a China pode reduzir a participação do dólar em suas reservas levou a moeda a mínimas históricas frente ao euro e à libra. As altas cotações do petróleo, o prejuízo da General Motors e uma investigação sobre gigantes do mercado de hipotecas afetaram as bolsas de Estados Unidos, Brasil e Europa. Em Nova York, o índice Dow Jones fechou em baixa de 2,64%, e o Nasdaq, de 2,70%. O S&P, mais abrangente, caiu 2,94%. Os principais índices europeus também recuaram. O euro chegou a ser negociado no patamar recorde de US$1,4730, para depois recuar a US$1,4667, nova máxima histórica, em alta de 0,77%. A libra atingiu seu maior patamar em relação ao dólar desde maio de 1981: US$2,1047.

No Brasil, contra a maré internacional do dólar, mas acompanhando a queda da Bolsa de Valores de São Paulo (Bovespa), a moeda americana teve alta de 0,23%, para R$1,740. O Índice Bovespa (Ibovespa) encerrou o dia em queda de 1,55%, para 63.500 pontos, puxada pelas perdas das bolsas estrangeiras. O risco-país subiu 3,82%, para 190 pontos centesimais.

Discussão sobre reservas chinesas balança mercados

A alta do euro foi motivada pelos comentários do vice-presidente da comissão permanente do Congresso Nacional do Povo, o Parlamento chinês, Cheng Swei. Ele disse que a China deve balancear a composição de suas reservas internacionais de US$1,43 trilhão para que moedas fortes como o euro ganhem espaço em detrimento de moedas em desvalorização, como o dólar.

¿ Em termos da estrutura de nossas reservas internacionais, devemos aproveitar a apreciação de moedas fortes para contrabalançar a depreciação de moedas fracas ¿ disse Cheng em um fórum financeiro, ressaltando que falava como acadêmico, não como autoridade. ¿ O euro está se valorizando em relação ao yuan, enquanto o dólar está caindo. Então devemos fazer um ajuste entre os dois.

A China não divulga a composição de suas reservas, mas Glenn Maguire, economista do Société Générale, estima que o país mantenha entre 65% e 70% de dólares e uma proporção bem menor em euros. Ele explicou que, se a China ajustar suas reservas, haverá uma venda maciça de dólares e uma compra de euros.

O dólar vem sofrendo com a expectativa de que o Federal Reserve (Fed, o banco central americano) reduza os juros mais uma vez este ano, enquanto os BCs europeus mantêm suas taxas. O Banco Central Europeu (BCE) se reúne hoje para decidir sobre os juros. As taxas menores nos EUA prejudicam o dólar porque levam os investidores a buscarem ativos mais rentáveis em outros países.

Financeiras são alvo de Procuradoria em Nova York

Wall Street também sofreu com a divulgação do prejuízo de US$39 bilhões da General Motors no terceiro trimestre. As ações da montadora caíram 6%. A aproximação do barril do petróleo do patamar de US$100 também preocupa analistas, já que os EUA são o maior consumidor da commodity hoje. O barril do tipo leve americano chegou a US$98,62, para fechar em queda de 0,34%, a US$96,37. Em Londres, o Brent ficou estável, a US$93,24.

Outro fator que pesou no mercado foi a investigação da Procuradoria Geral de Nova York contra as financeiras Freddie Mac e Fannie Mae, pela compra de hipotecas de alto risco (subprime) do banco Washington Mutual. Ambas são administradas pelo governo. (Felipe Frisch, com agências internacionais)