Título: MEC critica pagamento por nota boa no Enade
Autor: Weber, Demétrio; Farah, Tatiana
Fonte: O Globo, 10/11/2007, O País, p. 14

Especialistas consideram absurda decisão da Faculdade Paulista de Serviços Sociais de pagar até R$600 a alunos.

BRASÍLIA e SÃO PAULO. A decisão da Faculdade Paulista de Serviço Social de pagar prêmio de R$300 a R$600 aos alunos que participarem do Enade, desde que a instituição receba uma boa nota no exame, foi criticada ontem por Dilvo Ristoff, diretor de Avaliação e Estatísticas da Educação Superior do Instituto Nacional de Estudos e Pesquisas (Inep), do MEC. Ele disse que a Faculdade Paulista de Serviço Social dá um mau exemplo. E considerou repulsiva a iniciativa de oferecer dinheiro para estimular os alunos. O diretor ainda classificou a medida como paliativa e cosmética:

- É uma forma de mascarar um problema de falta de qualidade do curso. Não é solução, é paliativo. A solução passa por reestruturar o projeto pedagógico, capacitar docentes e melhorar a infra-estrutura.

A faculdade diz que a iniciativa é um estímulo para que os alunos não boicotem o exame, o que prejudica a nota das instituições. Ristoff argumentou que fazer o exame é uma obrigação prevista em lei para os estudantes sorteados.

- Não se pode pagar por algo que é obrigação legal. É um mau exemplo. Desse jeito, acaba tendo que pôr no orçamento e cobrar por outros meios.

Embora critique a faculdade, o diretor disse que a iniciativa não é ilegal.

- Não se trata de ilegalidade, mas de equívoco pedagógico.

Para o filósofo Roberto Romano, a iniciativa da Faculdade Paulista de Serviço Social presta um "desserviço à indústria, ao Estado, à sociedade":

- Isso reduz o ensino a um conjunto de truques e macetes para ter boa aprovação. É uma volta à antiga tese dos macetes dos cursinhos. Mas, naquele caso, no vestibular, era mais fácil corrigir. Aqui, você está lidando com pessoas que vão enfrentar o mundo da fábrica, do jornalismo, do trabalho, do Estado. E, nesses lugares, não existe macete. Se isso pega...

Romano rebateu o argumento da administração da faculdade, que afirmou usar o prêmio financeiro para combater a ausência dos alunos no exame. Para ele, o poder de convencimento da universidade não pode ser o do dinheiro:

- Se for esse, a faculdade já está falida - rebateu.

Para Romano, que vê claras diferenças entre um sistema de bolsas e incentivos para os estudantes e o prêmio financeiro para a prova do Enade, a faculdade precisa pensar por que está usando a estratégia do prêmio para estimular os alunos.

- Isso aí é um anabolizante. Se o diretor está usando um anabolizante, o que está acontecendo com a universidade?

Professora considera prêmio "equívoco pedagógico"

A professora da Faculdade de Educação da Unicamp Elizabeth Pereira chamou de "equívoco pedagógico" a premiação dos alunos que conseguirem aumentar a pontuação da Faculdade Paulista:

- É a segunda avaliação dos alunos dessa faculdade (a primeira foi em 2004), que já estão no último ano. Então, é para a direção fazer uma autocrítica e não para se promover no ranking de forma mercadológica.

Na opinião da especialista, a premiação desvirtua o propósito do Enade:

- Além disso, coloca os alunos na prática das compras, para que eles "vendam" os seus conhecimentos.