Título: Atrás do magnata petroleiro
Autor: Gois, Chico de
Fonte: O Globo, 10/11/2007, Economia, p. 43

Chávez apelida Lula, ironiza anúncio da Petrobras, sugere Brasil na Opep e união com PDVSA.

Opresidente da Venezuela, Hugo Chávez, ironizou a anunciada descoberta, pela Petrobras, de uma grande reserva de petróleo e gás na Bacia de Santos. Ao discursar durante a Cúpula Ibero-americana, que se encerra hoje em Santiago do Chile, Chávez se referiu várias vezes às novas reservas de modo jocoso, ora dizendo que, a partir de agora, o Brasil poderá fazer parte da Organização dos Países Exportadores de Petróleo (Opep), ora propondo que, como o Brasil aumentará em 50% seus reservatórios, passe a vender o óleo aos países pobres com preço inferior ao cobrado no mercado internacional. O venezuelano também chamou o presidente Luiz Inácio Lula da Silva de "magnata do petróleo". Para o governo brasileiro, porém, o tom usado pelo venezuelano foi de brincadeira.

Chávez deu essas declarações em um discurso de 25 minutos. Pelo protocolo, cada presidente teria direito a cinco minutos, o que acabou impedindo a fala de outros líderes, incluindo o presidente Lula. Além do venezuelano, excederam o tempo o argentino Néstor Kirchner e o rei da Espanha, Juan Carlos.

Ao falar sobre o tema central da cúpula, que é a coesão social, Chávez afirmou:

- O caminho pode estar muito bem pavimentado de pedra, de asfalto, ou deste petróleo que Lula acaba de conseguir lá no Brasil. Agora o Brasil pode ingressar na Opep, se é certo (que há petróleo na quantidade anunciada). Oxalá seja.

Venezuelano sugere ajudar mais pobres

Em seguida, ao mencionar sua intenção de construir uma empresa com os países andinos, que pretende chamar de Petroandina e incluiria Venezuela, Bolívia, Equador, Peru e Chile, Chávez fez uma proposta a Lula:

- Há uma Petrocaribe, que já está funcionando, propomos uma Petroandina, com os países da comunidade andina, e, Lula, agora que você tem tanto petróleo, uma Petroamazonas.

Chávez também disse que a PDVSA tem vendido petróleo mais barato aos países pobres e, em alguns casos, aceita como forma de pagamento vacas, máquinas, softwares e tratores. E sugeriu que a Petrobras siga seu caminho.

- Lula, agora que você é um magnata petroleiro, que o Brasil tem tanto petróleo, proponho que nos juntemos nesses mecanismos de cooperação com países que não têm petróleo, com países que não têm possibilidade de pagar US$100 o barril.

Momentos depois, o assessor especial para assuntos internacionais da Presidência da República, Marco Aurélio Garcia, minimizou as declarações do venezuelano, afirmando que Chávez lhe disse que ficara feliz com a descoberta feita pela Petrobras. Para Garcia, as afirmações de Chávez não podem ser vistas como uma forma de inveja ou receio de que o Brasil, após a descoberta, passe a ter mais influência econômica internacional, sobretudo na América Latina.

- Foi só uma brincadeira. Eu conversei com o Chávez há pouco e ele até disse: "Isso para nós é ótimo". Ele afirmou que isso dará mais força à América do Sul e até brincou, dizendo que vai propor na próxima reunião da Opep, que é na semana que vem, na Arábia Saudita, o ingresso do Brasil. Mas isso é bobagem, porque ainda vamos ter de tirar esse petróleo - disse Garcia.

Ele destacou que Lula e Chávez haviam conversado antes, de forma descontraída:

- Ele falou de forma muito simpática. Não foi nem uma pontada de inveja. Que pontada de inveja a Venezuela pode ter em relação à questão do petróleo?

Sobre a proposta do venezuelano de criar a Petroamazonas, o assessor de Lula afirmou que a idéia não é formar uma só companhia, juntando a PDVSA e a Petrobras:

- Antes disso, havia uma proposta que associava a Argentina, a Venezuela e a Petrobras, e se chamaria Petrosul. Mas é muito mais um acordo petroleiro entre esses países. Acho que devemos ter um acordo energético para a América do Sul.

Marco Aurélio Garcia, porém, disse que o Brasil não está disposto, neste momento, a discutir a questão de preço subsidiado do petróleo para países mais pobres, como quer Chávez. Ele frisou ainda que, apesar da descoberta da nova bacia, o Brasil continuará a incentivar a produção de biocombustíveis. Segundo o assessor, Lula tem interesse em que a Petrobras crie uma diretoria para tratar dos biocombustíveis.