Título: Tecnologia para perfurar camada de sal é dominada por poucas empresas
Autor: Ordoñez, Ramona
Fonte: O Globo, 10/11/2007, Economia, p. 44

EXPLORANDO PETRÓLEO: Equipamentos devem resistir a altas temperaturas.

Brasileira se destaca por ter furado rocha com 2 mil metros de profundidade.

A descoberta de petróleo abaixo de uma extensa camada de sal a mais de 6 mil metros de profundidade inseriu a Petrobras no seleto clube das gigantes petrolíferas que detêm a tecnologia de ponta para perfurar esse tipo de rocha. Segundo o geólogo e pesquisador da Coppe/UFRJ Giuseppe Bacoccoli, em algumas regiões como o Golfo do México, no lado americano, e Mar do Norte, companhias petrolíferas já perfuraram poços em áreas com sal.

- É uma tecnologia de ponta, altamente sofisticada e cara - destacou Bacoccoli.

De acordo com o especialista, a perfuração desse tipo de poço, em geral a grandes profundidades, exige o uso de de equipamentos e de materiais especiais que possam resistir a altíssimas temperaturas e pressões, como as brocas de diamante, de cor fosca e negra e, segundo Bacoccoli, com alta resistência.

Outras petrolíferas já perfuraram camadas de sal

Entre as empresas que utilizam essa tecnologia estão Exxon, Shell, BP, Chevron e Total. Bacoccoli destaca, no entanto, que a Petrobras se destaca nesse grupo por ter sido a primeira companhia a perfurar uma camada de sal com mais de 2 mil metros de profundidade. Nas outras regiões do mundo onde ela já foi perfurada, como o Golfo do México, as camadas de sal se moveram e estavam a menores profundidades.

O executivo, que trabalhou na Petrobras no passado, lembra ainda que, já na década de 80, a estatal tentava sem sucesso perfurar além da camada de sal. Segundo Bacoccoli, a primeira dificuldade está no mapeamento sísmico necessário para saber onde se deve fazer a perfuração. A deformação do sal prejudica os trabalhos de sísmica para saber o que existe abaixo dessas rochas. O especialista disse que atualmente já existem no mundo empresas especializadas que realizam esses trabalhos de sísmica.

A perfuração de um poço numa região com sal é mais complexa ainda, segundo o pesquisador da Coppe/UFRJ. De acordo com Bacoccoli, as temperaturas alcançam até 200 graus centígrados, e a pressão chega a 14 mil libras por polegada.

- Por isso é que o aluguel de uma sonda especializada nesse tipo de perfuração pode custar até US$800 mil por dia - destacou Bacoccoli.

A Petrobras garante que domina a tecnologia de perfuração desses poços, mas a questão é justamente que a tecnologia ainda é muito cara. A perfuração de um poço nessa camada pré-sal custa, em média, US$120 milhões, enquanto a de um poço normal custa em torno de US$20 milhões. O desafio agora, segundo Bacoccoli, é tentar reduzir esses custos.

O especialista informou ainda que, para colocar em produção o campo descoberto nessa região pré-sal, são necessárias plataformas iguais às que normalmente a Petrobras usa em outros campos. Isso porque a diferença nesse caso é apenas a perfuração do poço, depois preparado para entrar em produção.