Título: Musharraf prende Benazir em casa
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Fonte: O Globo, 10/11/2007, O Mundo, p. 51

Governo impede que ex-premier lidere marcha contra presidente, agravando a crise no Paquistão.

ISLAMABAD

Aex-primeira-ministra do Paquistão Benazir Bhutto foi impedida de sair de sua casa ontem, em Islamabad, e centenas de seus seguidores foram presos pelas forças de segurança. Atendendo a ordens do presidente Pervez Musharraf, a casa da principal líder da oposição foi cercada com blindados e arame farpado, o que impediu que ela participasse de uma manifestação contra o estado de emergência imposto há uma semana. A capital e a cidade próxima de Rawalpindi, onde o protesto liderado por Benazir começaria, tiveram as ruas fechadas pelo Exército. A ação do governo agravou a crise e isolou ainda mais o governo, que foi criticado pelo governo americano e pelo secretário-geral da ONU, Ban Ki-moon.

Chegou a ser anunciado que Benazir, a principal líder da oposição, seria mantida em prisão domiciliar por 30 dias, porém mais tarde foi divulgado que ela foi libertada à noite. Após ser impedida de sair de casa, no entanto, Benazir falou com a imprensa, por trás da barricada militar.

¿ Fui ilegalmente impedida por arame farpado e bloqueios ¿ disse a líder do Partido do Povo do Paquistão (PPP), que passou a fazer exigências a Musharraf. ¿ O governo está paralisado. Se ele restaurar a Constituição, tirar sua farda, deixar o cargo de chefe do Exército e anunciar eleições para 15 de janeiro, então tudo bem.

Anteontem, Musharraf anunciara que convocaria eleições parlamentares para 15 de fevereiro, um mês depois do que estava agendado, e que estava disposto a deixar o Exército.

Integrantes do PPP, à espera da chegada de sua líder em Rawalpindi, tentaram chegar ao Parque Liaquat ¿ de onde partiria a manifestação ¿ por vielas, e enfrentaram as forças de segurança. Os soldados usaram de violência para conter os manifestantes e prenderam centenas deles. E o fato de Benazir ter sido impedida de ir até a cidade pode ter evitado enfrentamentos ainda maiores.

¿ Assim que ela chegar a Rawalpindi, nós destruiremos as barreiras ¿ disse Shiaz Kayani, presidente distrital do PPP.

O governo afirma ter detido 2,5 mil pessoas desde que o estado de emergência foi decretado no sábado passado. Porém, o PPP afirma que, somente entre seus integrantes mais de cinco mil pessoas foram detidas nos últimos dias.

Prisão para `sua própria segurança¿

De acordo com o governo, a ex-primeira-ministra foi mantida em casa ¿para sua própria segurança¿, como divulgou o Ministério do Interior.

¿ Fizemos isso para que ela não liderasse a passeata. Havia informações confiáveis de que ela seria alvo de um ataque ¿ disse Tariq Azim Khan, porta-voz do governo.

Depois de nove anos no exílio, Benazir voltou ao Paquistão em 18 de outubro. Nesse dia, bombas explodiram ao lado do caminhão que levava a ex-premier, matando 139 pessoas.

A única TV que funciona normalmente no país é o canal do governo. Emissores privadas e internacionais, como BBC e CNN, foram tiradas do ar no dia do estado de exceção. As TVs estrangeiras voltaram ao ar quando Musharraf anunciou eleições, mas ontem, quando noticiavam a prisão de Benazir, saíram do ar de novo.

O agravamento do estado de exceção com a prisão, ainda que provisória, da líder da oposição preocupa os EUA, que mediaram a aproximação entre Benazir e Musharraf.

¿ A minha preocupação é que quanto mais durarem os problemas internos, mais distraído ficará o Exército paquistanês em termos da situação interna, em vez de se concentrar na ameaça terrorista na área de fronteira ¿ disse ontem o secretário de Defesa dos EUA, Robert Gates.