Título: Seis baleados em manifestação na Venezuela
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Fonte: O Globo, 10/11/2007, O Mundo, p. 52

Procuradoria analisa vídeos de ataque a estudantes. Chávez condena "violência fascista" contra reforma constitucional

CARACAS. Seis pessoas foram feridas a tiros numa manifestação de estudantes na cidade de Mérida, no sudeste da Venezuela, no clima de tensão crescente que precede o referendo sobre o projeto de reforma constitucional do presidente Hugo Chávez. Segundo o chefe de polícia local, Alberto Quintero, quatro policiais foram baleados ao tentarem evitar um confronto entre chavistas e antichavistas, e um adolescente de 17 anos que passava pelo local também foi atingido.

Segundo a imprensa, dois fotógrafos teriam sido atacados por policiais, mas o chefe da polícia deu outra versão: segundo ele, os agentes protegeram um repórter que estava sendo agredido. Não está claro de onde partiram os tiros, mas uma fonte contou que um atirador numa motocicleta teria disparado contra os policiais. Já Quintero informou que os disparos foram feitos de um carro em movimento.

PS francês critica proposta de reforma constitucional

As manifestações estudantis vinham sendo pacíficas. Mas na quarta-feira homens armados invadiram a Universidade Central da Venezuela, disparando contra estudantes que voltavam de uma passeata. Dois estudantes antichavistas foram baleados.

Ontem, em Caracas, a polícia dispersou estudantes que bloqueavam parcialmente uma avenida e entregavam folhetos a motoristas com informações sobre a proposta de reforma.

Após uma reunião, reitores das principais universidades do país e os ministros do Interior, Pedro Carreño, e da Educação Superior, Luis Cuña, condenaram a violência. Carreño, que na véspera culpara anti-chavistas pela violência, advertiu que não vai admitir que a situação fuja ao controle.

- Chegamos ao acordo de que os reitores e as autoridades universitárias exortem os alunos a respeitarem os direitos dos demais cidadãos e evitarem o bloqueio de ruas - disse Carreño.

Os estudantes entregaram à Procuradoria Geral provas dos ataques de quarta-feira, e sete vídeos estão sendo analisados.

Embora universitários atribuam o ataque à UCV a grupos chavistas, Hugo Chávez acusou ontem a oposição.

- Peço às pessoas de direita que não tomem o caminho do fascismo - disse, em visita ao Chile. - Tomam os caminhos da violência e do fascismo e se lançam contra as leis, os povos, e sempre buscam o Pentágono, buscando "generalotes" e gorilas para que lhes façam o trabalho do terrorismo.

No dia 2, os venezuelanos votarão num referendo sobre as modificações na Constituição.

A reforma é polêmica e foi criticada ontem pelo Partido Socialista da França. Segundo o PS, "a reforma pretende dar à Venezuela o caráter de Estado socialista, e esta opção altera a neutralidade da democracia".

O porta-voz do Conselho de Segurança Nacional (CSN) dos EUA, Gordon Johndroe, também criticou a repressão aos estudantes.

Por sua vez, o deputado Luis Tascón foi expulso do Partido Socialista Unido da Venezuela após defender o ex-ministro da Defesa Raúl Baduel, que criticara a reforma. Tascón confirmou a expulsão, mas disse que suas palavras foram distorcidas.