Título: MST intensificou invasões este ano
Autor: Éboli, Evandro
Fonte: O Globo, 12/11/2007, O País, p. 3

Deputados da bancada ruralista querem que ministro da Justiça justifique falta de ação da Polícia Federal.

BRASÍLIA. Assegurada a reeleição do presidente Luiz Inácio Lula da Silva e sua posse para novo mandato, o Movimento dos Trabalhadores Rurais Sem Terra (MST) intensificou as invasões no país em 2007. O balanço da Ouvidoria Agrária Nacional revela que o número de ocupações nos primeiros seis meses - 215 invasões - só foi inferior, nos cinco anos da gestão Lula, ao mesmo período de 2004, quando foram registradas 230. Naquele ano, os sem-terra promoveram o "abril vermelho", mês recorde do volume de ocupações nos 13 anos que a Ouvidoria contabiliza os números. Em abril de 2004, os sem-terra promoveram 109 invasões.

A trégua do MST com Lula começou no segundo semestre de 2006, período da campanha eleitoral. O número de ocupações foi pífio e a Ouvidoria contabilizou apenas 81 invasões entre julho e dezembro do ano passado. Se comparado com o primeiro semestre deste ano, a diferença é de 134 a menos.

Das 215 ocupações ocorridas entre janeiro a junho de 2007, 161 invasões, que representam 75% desse total, foram realizadas pelos militantes, sem-terra e acampados do MST. No mandato do petista, os primeiros semestres registraram os seguintes números de invasões: 117 (2003), 230 (2004), 127 (2005), 185 (2006) e 215 (2007).

Outra demonstração de que as invasões aumentaram este ano é que o volume de ocorrências nos meses de janeiro (35 invasões), fevereiro (33 invasões) e junho (21 invasões) foi superior a esses mesmos períodos nos outros quatro anos. Março apresentou o segundo maior registro, com 27 ocupações, e abril, com 74 invasões, é inferior apenas ao "abril vermelho".

Os relatórios da Ouvidoria Agrária, vinculada ao Ministério do Desenvolvimento Agrário, com o balanço das ocupações, não eram divulgados há sete meses. O ouvidor agrário, Gercino José da Silva, disse que a greve dos servidores do Instituto Nacional de Colonização e Reforma Agrária (Incra), ocorrida no meio do ano, impediu a apuração e confirmação das invasões.

Irritados com o volume de invasões ocorridas este ano, os deputados da bancada ruralista decidiram convocar o ministro da Justiça, Tarso Genro, para que justifique suposta falta de ação da Polícia Federal nas ações do MST. A assessoria parlamentar do ministro e os deputados da base do governo que integram a Comissão de Agricultura da Câmara, um espaço ocupado majoritariamente por ruralistas, não conseguiram evitar a aprovação de sua convocação. Tarso chegou a convidar esses grupo para uma audiência no ministério.

- Eu não vou. Não sou menino de recado do ministro. Ele que venha aqui dar, em público, as explicações devidas - reagiu o deputado Ronaldo Caiado (DEM-GO), autor do requerimento de convocação de Tarso Genro, que está obrigado a comparecer ainda este mês à audiência com os parlamentares.

Autor do Plano Nacional de Combate à Violência no Campo, o ouvidor agrário afirma que o padrão de violência está diminuindo. Ele diz que o Estado está mais presente nas regiões de conflito e cita como exemplo a criação de varas agrárias federais e estaduais, promotorias agrárias e delegacias e ouvidorias agrárias regionais.

A Ouvidoria registrou 34 mortes no campo no primeiro semestre, mas 19 delas ainda estão sendo investigadas e 15 foram não-decorrentes de conflito agrário, ou seja, não foram na luta pela terra ou em confronto entre policiais ou jagunços contra os sem-terra.