Título: BRA estuda pedido de recuperação judicial
Autor: Novo, Aguinaldo, Aggege, Soraya
Fonte: O Globo, 12/11/2007, O País, p. 4

Controladores da companhia aérea temem que Justiça receba algum pedido de falência.

SÃO PAULO. Os atuais controladores da BRA esperam definir ainda nesta semana uma solução para recolocar a companhia no ar. Entre as propostas em estudo estão a apresentação de um pedido de recuperação judicial, que afastaria o risco de falência e daria mais tempo para atrair um novo sócio, e a transformação das dívidas dos bancos em ações da própria BRA. A empresa deve cerca de R$150 milhões a um conjunto de bancos formado por Santander, ABN Amro Real, Unibanco e Safra, entre outros. Só os dois primeiros têm quase R$40 milhões para receber da companhia.

- De todos os caminhos, esse pode ser tecnicamente o mais complicado. Mas, ao mesmo tempo, é o mais factível, dado o interesse dos bancos de recuperar seu capital - disse um executivo envolvido nas negociações.

Em entrevista semana passada, o diretor de Relações Institucionais da BRA, Danilo Amaral, afirmou que a decisão de suspender todos os vôos foi tomada depois que os bancos se negaram a continuar financiando a empresa. Sem dinheiro até para comprar combustível, Amaral disse que a situação "ficou insustentável".

Dificuldade para entrada de novo sócio estrangeiro

Correndo contra o relógio, os controladores da BRA temem que a Justiça receba pedido de falência contra a empresa - o que acarretaria a perda da concessão. Por isso, o pedido de recuperação judicial também é uma opção considerada pela empresa. Os defensores desse caminho afirmam que a companhia ganharia mais tempo para tentar atrair novo sócio.

Fundada pelos irmãos Humberto e Walter Folegatti, a BRA vendeu no final do ano passado 20% de seu capital para a Brazil Air Partners, fundo formado por bancos e fundos de investimentos estrangeiros e também pela Gávea Investimentos, empresa do ex-presidente do Banco Central Armínio Fraga. Eles desembolsaram R$180 milhões. Segundo o executivo que participa das negociações, a hipótese de os atuais controladores injetarem dinheiro novo na BRA é a mais simples, mas a "mais remota neste momento".

Uma dificuldade extra para a entrada de um novo sócio estrangeiro na companhia, segundo os negociadores, seria a legislação em vigor, que limita essa participação a 20% do capital de qualquer companhia aérea. Perguntado sobre a possibilidade de o controle da BRA passar para as mãos do empresário German Efromovich, da OceanAir, o executivo disse apenas que "é complicado negociar com ele". Com o endosso do ministro da Justiça, Nelson Jobim, a OceanAir assumiu temporariamente as rotas operadas pela BRA. Até a véspera da suspensão de suas operações, a BRA havia vendido cerca de 70 mil passagens com validade até março do próximo ano.

Procon pede providências imediatas da Anac

O Procon de Guarulhos aguarda para hoje decisão da Justiça Federal sobre o pedido de liminar que apresentou no último sábado. O Procon acusa a Anac de omissão e pede providências imediatas do órgão, além da responsabilização financeira dos administradores da BRA. Segundo o diretor do Procon Leonardo Freire, a Anac precisa aplicar um plano de contingência para atender aos passageiros.

Ontem, todos os painéis e monitores com informações dos vôos nacionais e internacionais de Cumbica, em Guarulhos, sofreram uma pane. Os aparelhos ficaram desligados desde as 14h. Até as 19h, os técnicos da Infraero ainda não tinham detectado a causa da falha. As informações aos passageiros foram transmitidas pelo sistema de som e nos balcões da companhias aéreas. Não foram registrados tumultos, segundo a Infraero. No aeroporto de Cumbica, dez vôos sofreram atraso de mais de uma hora, das 182 partidas programadas até as 19h de ontem, e houve apenas um cancelamento.

O Aeroporto de Congonhas operou por instrumentos no final da tarde, por causa das chuvas. Até as 18h, a Infraero contabilizou no terminal seis atrasos (3,8%) em 159 vôos e 13 cancelamentos (8,2%). Em todo o país, em 1.191 vôos, 95 atrasaram (8%) e 48 foram suspensos (4,%), até as 19h.