Título: Enade: exame teve 15,5% de abstenção
Autor: Webwe, Demétrio; Veloso, Suzana
Fonte: O Globo, 12/11/2007, O País, p. 5

Mesmo com protestos organizados pela UNE, 202 mil universitários compareceram à prova.

BRASÍLIA e RIO. O índice de abstenção na quarta edição do Exame Nacional de Desempenho dos Estudantes (Enade), realizado ontem, foi de 15,5%, o que significa que 37.316 universitários deixaram de comparecer aos locais de prova em todo o país. Medicina teve a menor proporção de ausentes, com 5,7%, seguida por odontologia, com 9,9%, e medicina veterinária, com 12,2%. No extremo oposto, os estudantes de tecnologia em agroindústria registraram a mais alta taxa de abstenção, com 27,1%, seguidos pelos de educação física, com 21,9%.

O balanço foi divulgado no início da noite de ontem pelo Instituto Nacional de Estudos e Pesquisas Educacionais Anísio Teixeira (Inep), órgão do Ministério da Educação. Ao todo, compareceram 202.726 universitários. O presidente do Inep, Reynaldo Fernandes, considerou normal o índice de abstenção, lembrando que 17% dos alunos selecionados também não compareceram no ano passado. Ele disse acreditar que o número de ausentes não tenha relação com o boicote defendido pelo União Nacional dos Estudantes (UNE), que defendia que as provas fossem entregues em branco, uma vez que a ausência do estudante impede a entrega do diploma.

- Não é de surpreender (o índice de 15,5%). Em 2006, foi 17%. Não temos nenhuma informação de que o protesto da UNE tenha atrapalhado. Houve panfletagens, mas tudo tranqüilo, em ordem - disse Reynaldo.

Ele afirmou que o único incidente registrado foi em Belém, onde estudantes que protestavam contra o exame entraram numa sala e chegaram a subir numa carteira escolar. Segundo o presidente do Inep, eles foram identificados e a prova voltou a ser aplicada.

USP e Unicamp mais uma vez não participam do exame

Reynaldo lamentou que a Universidade de São Paulo (USP) e a Universidade Estadual de Campinas (Unicamp), duas das mais prestigiadas do país, tenham mantido a decisão de não participar do Enade, a exemplo do que já ocorreu nas últimas três edições do exame. As universidades criticam a metodologia do Enade. No meio acadêmico, comenta-se que o boicote refletiria divergências político-partidárias, uma vez que o exame foi criado no governo Lula, em substituição ao Provão.

O Enade avalia alunos no início e fim dos cursos de graduação. Neste ano, participaram as seguintes áreas: agronomia, biomedicina, educação física, enfermagem, farmácia, fisioterapia, fonoaudiologia, medicina, medicina veterinária, nutrição, odontologia, serviço social, tecnologia em agroindústria, tecnologia em radiologia, terapia ocupacional e zootecnia.

Para incentivar o boicote, integrantes da UNE e outras instituições estudantis escolheram alguns colégios para fazer um corpo-a-corpo, pedindo que os alunos assinassem a prova e a entregassem em branco. Na porta do Colégio Santo Antonio Maria Zaccaria, no Catete, no Rio, membros da Coordenação Nacional de Luta dos Estudantes (Conlute) distribuíam adesivos com os dizeres "Nota 0 para o Enade! Por uma avaliação de verdade!", estimulando o boicote. A idéia era colar o adesivo na prova e assiná-la, deixando as questões em branco.

- É a mesma prova para os que estão começando e os que estão terminando a universidade, isso é uma esquizofrenia. E o governo vai investir nas faculdades que tiverem melhor desempenho, não nas que precisam mais. É uma lógica de premiação - protestou Clara Saraiva, de 20 anos, aluna do curso de serviço social da UFRJ.

Aluna do mesmo curso de Clara, Hudna Mendonça, de 23 anos, também estimulava o boicote, apesar de não ter sido sorteada para o exame. Ela fez o Enade há três anos, quando estava no segundo período, e teve que se submeter à mesma prova de quem estava se formando.

- Muitas universidades particulares fizeram cursinhos para o exame - criticou Hudna. - O Conlute apóia o Andes (Sindicato Nacional dos Docentes das Instituições de Ensino Superior), que propõe uma avaliação da infra-estrutura, dos professores.

A principal reclamação de quem fez a prova no Liceu Franco-Brasileiro, em Laranjeiras, era a de que apenas uma prova não seria suficiente para se avaliar o ensino.

No quinto período de música da UFRJ, Magno Caliman, de 20 anos, criticou que um curso de habilidades artísticas seja avaliado com um teste em papel:

- Não faz sentido uma prova de múltipla escolha para um curso de artes.

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