Título: Petróleo profundo
Autor: Vidor, George
Fonte: O Globo, 12/11/2007, Economia, p. 18

Há mais de cinco anos já se sabia que poderia existir uma outra "Bacia de Campos" mais abaixo dos reservatórios atuais. Em dezembro de 2005, a Petrobras anunciou ter encontrado um bom reservatório de óleo leve (28 graus API, o mesmo agora do campo mastodôntico de Tupi, na Bacia de Santos) em Marlim Leste, a quatro mil metros do fundo do mar, mil a mais do que o habitual.

E na própria Bacia de Santos já se achou também petróleo leve e gás natural em profundidades para as quais já existe tecnologia de produção dominada. É o caso, por exemplo, do BS-500, a 160 quilômetros do Rio, onde se encontrou óleo de 33 graus API (a escala vai até 50, que seria o tipo mais leve de petróleo conhecido; o Brasil hoje é grande produtor de óleo classificado como pesado, variando de 14 a 17 graus API). A Petrobras espera produzir na próxima década, nessa área, pelo menos 200 mil barris diários de petróleo leve e 20 milhões de metros cúbicos/dia de gás natural.

Na parte já pertencente ao litoral de São Paulo, no bloco BM-S-9, descobriu--se petróleo de 27 graus API em águas ultraprofundas (mais de 2.100 metros) a 273 quilômetros da costa. O campo de Tupi fica um "pouco" mais perto, a 250 quilômetros do litoral do Rio.

Assim, o anúncio do supercampo na Bacia de Santos veio comprovar a existência de reservatórios muito profundos, coroando um esforço que os técnicos da área de exploração da Petrobras vêm fazendo desde o fim da década passada.

Os investimentos necessários para pôr esses campos em operação serão ainda mais elevados do que a média atual. Os poços ficam bem afastados da costa, a tecnologia de produção terá de ser aprimorada, e uma nova rede de infra-estruturada precisará ser montada. Nesse sentido, Campos leva alguma vantagem em relação a Santos porque já tem meio caminho andado. Em compensação, nessas novas descobertas, a Petrobras conta com vários sócios de cacife alto (BG, Petrogal, Repsol, Exxon) que podem contribuir financeiramente para viabilizar e até acelerar os investimentos, pois o Brasil está ávido por gás natural, e o mundo, por petróleo.

Pelo visto, a próxima década será muito boa para a economia brasileira: Copa do Mundo (e quem sabe uma olimpíada), petróleo de sobra e oferta de gás natural.

A dívida líquida externa do Brasil, que em junho estava em US$28,9 bilhões segundo o Banco Central, deve cair para menos de US$25 bilhões até dezembro, e é possível que até desapareça no ano que vem, caso o BC continue a acumular reservas em moeda estrangeira no ritmo atual.

As projeções mais conservadoras sobre o fluxo de divisas (entradas e saídas) indicam que continuarão sobrando na economia brasileira de US$30 bilhões a US$40 bilhões por ano, o que pode ser absorvido pelo BC nas reservas ou adquirido em parte pelos bancos.

O serviço da dívida (amortizações do principal e mais o pagamento de juros) deve cair para menos de US$50 bilhões em 2008. Mas, no conjunto das contas externas brasileiras, essa queda deve ser compensada por um aumento progressivo nas remessas de lucros e dividendos para o exterior.

O reflexo disso sobre o câmbio é uma pressão para que o real continue se valorizando. Então o país precisa evitar a entrada de capitais de curto prazo, que miram apenas as operações financeiras especulativas de curto prazo. Portanto, são indesejáveis. Mas esses capitais nômades não estão de olho apenas nas negociações em bolsa, que envolvem maior risco. Parcela significativa dos recursos é atraída pelas altas taxas de juros no Brasil. Como frisou o ex-presidente do Banco Central Fernão Bracher em artigo recente no jornal "Valor Econômico", a economia brasileira é a única, entre as mais relevantes, que tem saldo em transações correntes (ou seja, contas externas positiva) e taxas de juros elevadas.

É mamão com açúcar para especuladores.