Título: Indústria avalia que escassez vai durar pelo menos mais 4 anos
Autor: Nogueira, Danielle; Ordoñez, Ramona
Fonte: O Globo, 11/11/2007, Economia, p. 30

Empresas investem em geração própria como solução a curto prazo.

BRASÍLIA. A descoberta de uma reserva gigante de petróleo na Bacia de Campos, anunciada com pompa pela Petrobras na semana passada, não vai devolver o sono ao setor produtivo a curto prazo. Isso porque, argumentam os empresários, soluções para melhorar a matriz energética do país são urgentes e "para ontem". Eles já vêem riscos de o crescimento econômico ficar comprometido pela falta de energia, sobretudo se a expansão ficar próxima dos 5% anuais por mais tempo.

- A descoberta (do megacampo de petróleo) só serve para animar, mas não traz soluções imediatas. Não interfere nada no quadro atual. O problema vai continuar até 2011 - disse o presidente do conselho de Infra-estrutura da Confederação Nacional da Indústria (CNI), José de Freitas Mascarenhas, acrescentando que as novas reservas deverão estar produzindo somente daqui a, aproximadamente, sete anos.

Pequenas hidrelétricas e biomassa: opção à indústria

O problema com a oferta mais limitada de energia foi escancarado há poucos dias, com o desabastecimento de gás que atingiu sobretudo o Rio de Janeiro. Por ter de abastecer algumas usinas térmicas com o gás natural, para evitar falta de luz em algumas regiões do país, a Petrobras teve de parar de fornecer o insumo para outros segmentos, como postos de gasolina e algumas indústrias.

Diante da ameaça, disse Mascarenhas, uma saída para o setor produtivo a curto prazo é investir na geração de energia, com pequenas hidrelétricas, térmicas ou até usinas de biomassa - que usam bagaço de cana como matéria-prima.

- Estamos no limite do crescimento. Se houver mais (expansão), podemos ficar sem energia - disse.

- Hoje temos muito mais linhas de transmissão. Se faltar (energia) em alguma região, fica fácil transportar.

Esta é a mesma avaliação da Federação das Indústrias do Estado de São Paulo (Fiesp). Para a entidade, as descobertas não vão resolver os problemas de abastecimento energético do país a médio prazo. Serão úteis apenas por volta de 2015.

- As novas reservas (da Petrobras) estão fora do horizonte de risco agora. O nosso problema está em 2010, 2012, antes de elas surtirem efeito - disse o diretor do Departamento de Infra-estrutura da Fiesp, Saturnino Sérgio da Silva.

Para ele, apesar de o risco a curto prazo ser ainda importante, as ações já em andamento da estatal na área de gás - como Santos (SP) e Espírito santo - devem controlar melhor a situação já a partir de 2008.

O presidente da Associação Brasileira da Infra-estrutura e Indústria de Base (Abdib), Paulo Godoy, acredita que o problema do gás no Brasil a curto prazo tem de ser resolvido com a Bolívia, com negociações para o governo do país vizinho aumentar as exportações do produto para cá.