Título: Brasil vai manter dependência do gás para gerar eletricidade até 2010
Autor: Nogueira, Danielle; Ordoñez, Ramona
Fonte: O Globo, 11/11/2007, Economia, p. 30

Petrobras torce para que chuva não atrapalhe a conclusão de gasodutos.

O Brasil manterá sua dependência em relação ao gás para a geração de eletricidade até 2010, e poderá aumentar ainda mais a participação dessa fonte na matriz de energia elétrica a partir de 2012/2013, segundo o presidente da Empresa de Pesquisa Energética (EPE), Mauricio Tolmasquim. Hoje, a participação na matriz é de 10%.

Como praticamente todos os leilões de energia para os empreendimentos que entrarão em operação até a virada da década já foram realizados, tal percentual não deve sofrer alteração no período, de acordo com o presidente da estatal. Nos próximos leilões será negociada a energia que estará disponível a partir de 2012/2013, e nada impede que térmicas a gás voltem ao cenário, diz Tolmasquim.

- Não há tempo para construir novas térmicas a gás até 2010. A partir de 2013, pode ser que haja (novas usinas à base de gás) de novo.

Tolmasquim lembra que o sistema elétrico brasileiro é hidrotérmico, ou seja, a energia é gerada a partir de fontes hídrica e térmica. A primeira ganha prioridade por uma questão de preço. As térmicas - sejam a gás, óleo ou biomassa - funcionam como uma reserva, sendo acionadas apenas quando o nível dos reservatórios cai.

- Quando os reservatórios estão baixos, as térmicas são chamadas a gerar porque não sabemos como as chuvas vão se comportar no futuro. Quando isso acontece quer dizer que o sistema está funcionando. As térmicas dão segurança ao sistema. O que não é razoável é desviar o gás para outros usos.

"Nada que arrisque as obras, como chuvas, pode acontecer"

Ironicamente, enquanto o setor elétrico torce para chover, a Petrobras torce na direção contrária. Segundo um técnico da estatal, fortes chuvas poderiam atrapalhar as obras de construção não apenas dos sistemas de produção, mas principalmente, dos gasodutos.

- As obras estão no laço, no limite para aumentarmos a oferta de gás no Sudeste. Nada que arrisque o cronograma das obras, como chuvas, pode acontecer - disse o técnico.

Entre os novos campos que entrarão em produção estão o de Peroá (ES), que vai produzir 6 milhões de m por dia a partir deste ano. Um importante gasoduto, que ligará Cabiúnas (RJ) a Vitória também está em fase final de obras.

O descompasso entre oferta e demanda de gás verificado este ano fez com que o Instituto Acende Brasil, que reúne empresas privadas do setor elétrico, elevasse o risco de racionamento de 5% para 9% em 2008 e de 6,5% para 8% em 2009. O nível aceitável é de 5%. Segundo estudo concluído em outubro, haverá déficit de 2.600 MW médios em 2008. A partir de então, a situação tende a melhorar um pouco com a entrada de novos empreendimentos. Em 2009, o déficit cairia para 1.900 MW médios e em 2010, para 800 MW médios.

- Temos um déficit de energia firme até 2010. Isso significa que teremos de usar mais água dos reservatórios para gerar a energia, e que as térmicas deverão ser acionadas com mais freqüência - explicou Claudio Sales, presidente do instituto.

Tolmasquim contestou o estudo do Acende Brasil e afirmou que não há risco de apagão porque o nível dos reservatórios está 6% acima do registrado em 2006. Além disso, novos projetos acrescentarão cerca de 6 mil MW médios até 2010, segundo a EPE, assegurando o crescimento da demanda de 5,3% anuais por energia.