Título: Otimismo exagerado na divulgação de volumes
Autor: Frisch, Felipe
Fonte: O Globo, 09/11/2007, Economia, p. 25

Campo de gás de Mexilhão é um dos exemplos de estimativas que não se concretizaram.

Tal qual o anúncio feito ontem pela Petrobras, referente à área de Tupi, na Bacia de Santos, a descoberta no campo de gás natural de Mexilhão, no mesmo local, também foi divulgada com pompa e circunstância, no ano de 2005. O problema é que os volumes previstos se revelaram bem menores do que o divulgado inicialmente.

Quando foi descoberto, a Petrobras afirmou que seria o maior campo de gás do país. As reservas iniciais estimadas em Mexilhão eram de 400 bilhões de metros cúbicos, superando as reservas totais do Brasil - de 300 bilhões. Tempos depois, porém, novas pesquisas mostraram que o volume giraria em torno de 250 bilhões. O prazo para o início das operações também foi revisto, e passou do ano de 2008 para 2009.

Além de Mexilhão, há outros casos de otimismo exagerado na história do petróleo nacional, a começar pelo primeiro campo descoberto no país, em 1939, em Lobato, periferia de Salvador. Depois da euforia inicial, verificou-se que não havia petróleo suficiente que justificasse a produção. Em 1953, ano da fundação da Petrobras, as expectativas migraram para a Bacia do Médio Amazonas, com descobertas em Nova Olinda. Mas a constatação da inviabilidade econômica das jazidas gerou uma frustração nacional. Apenas na década de 70, a região voltou a apresentar chances de resultados comerciais.

Sergipe: de 1,9 bilhão para 370 milhões de barris

Em 1974, o então ministro de Minas e Energia, Shigeaki Ueki, mostrou-se muito otimista ao anunciar que o campo de Garoupa, na costa fluminense, seria um reservatório de 800 milhões de barris de petróleo. A realidade revelou que o número era um quarto disso. Já no ano seguinte, Ueki fez o anúncio do campo de Namorado de forma mais cautelosa: declarou que poderia ter "de 240 milhões a 900 milhões de barris".

A produção de Caioba também foi superestimada, conforme noticiou O GLOBO em 4 de janeiro de 1976: "Caioba, que na ocasião de sua descoberta, foi considerado um campo gigantesco, a ponto de tornar-se conhecido pelo nome de Caiobão, deverá atingir uma produção máxima menor do que 30 mil barris/dia. Afirmou-se, durante sua descoberta, em 1970, que o campo poderia fornecer até 500 mil barris/dia."

Já o anúncio de um campo gigante em Sergipe, em 2003, expôs um conflito entre o governo e a Agência Nacional de Petróleo (ANP). Na ocasião, a ANP divulgou a estimativa de 1,9 bilhão de barris de petróleo. A informação foi negada, entre outras autoridades, pela então secretária nacional de Petróleo, Gás e Combustíveis Renováveis, Maria das Graças Foster, hoje diretora da Petrobras. A projeção girava em torno de 370 milhões de barris.

Dado superestimado gerou impacto na bolsa

Durante o episódio, a Petrobras criticou a ANP, em nota, "por ter divulgado a descoberta de forma confusa e incorreta". Dilma Rousseff, que comandava o Ministério de Minas e Energia, entrou na polêmica, e informou que a agência tinha feito uma "divulgação precipitada". O fato mexeu com o mercado financeiro, por suspeitas de favorecimento de investidores.