Título: Por estratégia política, Dilma foi a porta-voz
Autor: Camarotti, Gerson
Fonte: O Globo, 09/11/2007, Economia, p. 28
EXPLORANDO PETRÓLEO: Justificativa do Planalto é que ministra preside o Conselho de Administração da Petrobras.
Lula decidiu que ela faria o anúncio, a fim de associar sua imagem a fatos positivos. Sucessão é pano de fundo.
BRASÍLIA. O protagonismo da ministra-chefe da Casa Civil, Dilma Rousseff, no anúncio da nova descoberta da Petrobras na área de Tupi, na Bacia de Santos, foi intencional e planejado pelo Palácio do Planalto. A decisão foi do próprio presidente Luiz Inácio Lula da Silva, que quer associar a imagem de Dilma a fatos positivos. A ministra é considerada uma das opções do presidente para disputar a sucessão presidencial de 2010.
A decisão do presidente é evitar a exposição de Dilma em temas negativos. Tanto que ela foi preservada, no início da semana, de exposição na mídia para explicar o risco de colapso no fornecimento de gás. Mas ontem o anúncio foi devidamente organizado para que Dilma fosse a estrela principal da boa notícia da Petrobras. Até mesmo Lula ficou estrategicamente de fora da divulgação, feita logo após a reunião do Conselho Nacional de Política Energética. Lula participou da reunião e, em seguida, embarcou para o Chile.
A justificativa oficial do Planalto é que Dilma Rousseff é a presidente do Conselho de Administração da Petrobras. Por isso, informavam fontes ontem à noite, coube a ela a divulgação da descoberta do campo, com reservas estimadas de 5 a 8 bilhões de barris de petróleo de boa qualidade e gás, e a possibilidade de o Brasil virar um exportador de petróleo. Ao presidente da Petrobras, José Sergio Gabrielli, coube o papel de dar as explicações técnicas, ao lado de outros especialistas da estatal.
O protagonismo de Dilma foi considerado natural pelo ministro das Relações Institucionais, Walfrido dos Mares Guia. Ele chegou a defender o fato de Dilma faturar politicamente as boas notícias do governo.
- É natural que a Dilma seja prestigiada com a distinção de fazer o anúncio de uma notícia tão boa para o Brasil. Afinal, ela exerce a função de coordenador administrativo dos ministérios, é a chefe da Casa Civil, exerce a coordenação do PAC e é a presidente do Conselho da Petrobras. Por que não deixar de faturar politicamente quando se tem algo positivo para anunciar? - argumentou Mares Guia.
Segundo Mares Guia, o Planalto já sabia, há algumas semanas, que a Petrobras estava prestes a confirmar a descoberta do novo campo de petróleo e gás natural. A primeira informação chegou ao núcleo do governo como uma "probabilidade". Assim que a notícia foi confirmada, o próprio Lula determinou que o anúncio seria feito pela ministra-chefe da Casa Civil.
Temor era que crise do setor afetasse imagem de Dilma
Os operadores políticos do Planalto, com Lula à frente, avaliaram que era uma notícia muito importante para ser anunciada pelo apagado ministro interino das Minas e Energia, Nelson Hubner, ou mesmo pelo presidente da Petrobras. A idéia era mesmo mostrar a cara do governo Lula, e não apenas da Petrobras, no anúncio da boa notícia.
- Era preciso dar a dimensão que a notícia merecia. Por isso, Dilma foi escalada - confirmou Mares Guia.
O anúncio mudou o ambiente no núcleo do governo. Havia preocupação grande com os efeitos políticos de uma eventual crise energética, por causa da escassez de gás. O grande temor era que a imagem de Dilma fosse associada à de uma "gerente incompetente". Quando foi confirmada a boa notícia do novo campo de petróleo, Lula não teve dúvida: pôs Dilma Rousseff na vitrine do governo.