Título: Diplomacia petroleira de Chávez fica esvaziada
Autor: Rodrigues, Luciana
Fonte: O Globo, 13/11/2007, Economia, p. 30

Professor de relações internacionais da UFF, Williams Gonçalves acredita que o Brasil ganhará nova projeção na política global, caso se confirme a projeção de o país sair da auto-suficiência para entrar no seleto grupo dos exportadores de petróleo. "Seremos um interlocutor privilegiado", afirma.

Qual é a importância política da recente descoberta da Petrobras?

WILLIAMS GONÇALVES: Se essa descoberta tiver a dimensão que se prevê, dará nova projeção internacional ao Brasil. As relações de poder são determinadas pela disputa por fontes de energia, ainda mais agora que gigantes do mundo em desenvolvimento entraram num ciclo virtuoso de crescimento. E apesar da preocupação com meio ambiente, o petróleo continuará a ser a principal fonte de energia. Ao passarmos de auto-suficiente para exportadores (de petróleo), muda significativamente a qualidade de nossa projeção internacional. Seremos um interlocutor privilegiado.

Muda a disputa pela liderança regional? O presidente da Venezuela, Hugo Chávez, chamou Lula de "magnata do petróleo".

GONÇALVES: Se já tínhamos consolidado nosso papel central no processo de integração com a liderança agrícola e industrial, agora teremos peso também energético. Não vejo, pelo lado do governo brasileiro, a intenção de usar isso como barganha, porque não há necessidade. Mas, do ponto de vista da Venezuela, se não chega a prejudicar, retira porém um trunfo importante do país que é usar o fato de ser o maior exportador de petróleo da região nas relações com seus vizinhos. Esse método de política externa, a diplomacia petroleira de Chávez, fica esvaziada. A brincadeira que ele fez com Lula foi reveladora disso.

O Brasil corre o risco de ver sua economia ficar dependente do petróleo?

GONÇALVES: A descoberta veio num bom momento em nossa História. Correríamos esse risco se tivéssemos descoberto essa quantidade enorme de petróleo nas décadas de 30 ou 40. Aí, o nosso processo de desenvolvimento poderia ter sido comprometido. Hoje, não acredito que o petróleo leve a um retrocesso ou ao risco de "doença holandesa" (quando uma economia depende exclusivamente de uma commodity).

Há risco de retrocesso político-institucional?

GONÇALVES: Vivemos hoje uma crise política que não é uma crise das instituições democráticas. Pelo contrário, a crise atual deve-se ao fato de a sociedade valorizar cada vez mais as instituições democráticas. A crise é de representação, de colapso no sistema de partidos. É um problema independente da situação nova criada pela descoberta da Petrobras. Não vejo como o problema político possa se agravar ou mesmo se alterar com isso. (Luciana Rodrigues)