Título: Queda das ações da Petrobras faz Bolsa recuar 4,34%, no 2º pior dia do ano
Autor: Rosa, Bruno
Fonte: O Globo, 13/11/2007, Economia, p. 33

EXPLORANDO PETRÓLEO: Dólar sobe 1,83%, a maior alta desde 28 de agosto.

Papéis da estatal caem até 7,19% devido a resultado menor no 3º trimestre.

RIO e BRASÍLIA. A queda do preço do petróleo no mercado internacional e o resultado fraco no terceiro trimestre deste ano fizeram as ações da Petrobras registrarem forte queda ontem. Depois de subir mais de 14% na semana passada, o papel preferencial (PN, sem direito a voto) da estatal caiu 6,5% e o ordinário (ON, com direito a voto), 7,19%. Com isso, a Bolsa de Valores de São Paulo (Bovespa) fechou em baixa de 4,34%, aos 61.526 pontos, em seu segundo pior dia do ano. Já o dólar subiu 1,83% e encerrou a R$1,778, a maior alta desde o dia 28 de agosto, quando a divisa avançou 2,61%, para R$2,002.

Durante o dia, a ação ON chegou a cair 7,5% e a PN, 7,2%. De acordo com analistas, mesmo com a descoberta do potencial para produzir óleo e gás na área de Tupi, em um bloco de exploração na Bacia de Santos, a ação da companhia tende a sofrer a curto prazo com o mau desempenho no terceiro trimestre deste ano, quando o lucro líquido caiu 22% em relação ao mesmo período do ano anterior. Ontem, dos R$6,5 bilhões negociados na Bolsa, cerca de R$1,6 bilhão foi movimentado pela estatal.

Ação da Vale registra queda de até 5,35%

A ação já vinha subindo mesmo antes do anúncio da descoberta, devido aos recordes do petróleo no mercado internacional. Gustavo Barbeito, da Prosper Gestão de Recursos, explica que a queda ocorreu porque o mercado considerou que o preço do papel ficou alto demais.

- Mas a médio e a longo prazo, o cenário é completamente diferente. A empresa tende a se valorizar mais, porque a descoberta a eleva de patamar - diz Patrícia Branco, sócia da Global Equity.

A ação não foi a única que sofreu ontem. Os papéis ON e PN da Companhia Vale do Rio Doce caíram 5,35% e 4,89%, respectivamente, diante da desvalorização das commodities metálicas no mercado internacional. Apenas cinco ações do Ibovespa, que reúne os papéis mais negociados da Bolsa, fecharam em alta: Embraer (2,68%), Cyrela (1,51%), Eletrobrás (0,99%), Eletropaulo (0,78%) e Transmissão Paulista (0,52%).

Nos EUA, o Nasdaq caiu 1,67%, Dow Jones, 0,42% e S&P, de 1%. A queda foi puxada por um relatório do Deutsche Bank alertando que os bancos podem ter prejuízo de US$400 bilhões com a crise das hipotecas de alto risco, as chamadas subprime. Pesou ainda o fato de o HSBC ter confirmado prejuízos de US$1 bilhão em títulos lastreados em subprime. O temor em relação a perdas com hipotecas também derrubou as bolsas da Ásia: a Bolsa de Xangai, por exemplo, caiu 2,40%, e a de Hong Kong, 3,88%.

O ministro da Fazenda, Guido Mantega, admitiu ontem que o governo está medindo o impacto do câmbio apreciado na produção e na exportação de produtos brasileiros, embora o cenário ainda não chancele a adoção de medidas emergenciais.

- Temos de nos preocupar com o que está acontecendo agora e com o que vai acontecer daqui a pouco, na iminência do investment grade. São exercícios normais que fazemos sobre o câmbio e sua repercussão na produção, na inflação. É isso, não há nada concreto - afirmou Mantega.

Analistas prevêem IGPs acima de 6% este ano

O saldo acumulado da balança comercial brasileira de janeiro até a segunda semana de novembro, no valor de US$35,112 bilhões, já é 11% menor do que o superávit registrado no mesmo período de 2006, quando o valor apurado ficou em US$39,430 bilhões. Este mês, a queda ainda é mais evidente: a diferença está positiva em US$736 milhões, 77,3% inferior a novembro de 2006 e 78,6% abaixo do resultado de outubro de 2007.

O mercado financeiro puxou para cima a estimativa para os IGPs em 2007, segundo o boletim Focus divulgado ontem pelo Banco Central (BC). Na avaliação média das cem instituições pesquisadas, os índices de inflação apurados pela Fundação Getúlio Vargas (FGV) - importantes no cálculo de aluguéis e alguns preços administrados - romperão a barreira dos 6%. O motivo é a avaliação de que ainda é grande o impacto dos preços agrícolas nas taxas de atacado, devido à valorização das commodities.

Agora os especialistas esperam que o IGP-DI feche a 6,01% e o IGP-M, a 6,06% este ano. Até a semana anterior, as previsões eram de 5,87% e 5,90%, respectivamente. Sem influência do atacado, e menos pressionado pelo custo dos alimentos, o IPCA também teve a estimativa elevada: de 3,83% para 3,92% em 2007, mas abaixo do centro da meta do governo, de 4,5%.

COLABORARAM: Henrique Gomes Batista, Eliane Oliveira e Patricia Duarte, com agências internacionais