Título: Madri ignora jogo de Chávez
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Fonte: O Globo, 13/11/2007, O Mundo, p. 36

OS PROBLEMAS DO COMANDANTE

Governo espanhol afirma que troca de acusações só interessa a presidente venezuelano.

MADRI

O governo espanhol anunciou ontem que não pretende responder às ofensas do presidente Hugo Chávez ao rei Juan Carlos, para não entrar no "jogo" do venezuelano. Segundo o ministro do Interior espanhol, Alfredo Rubalcaba, é do interesse de Chávez manter uma "troca de acusações". O Partido Popular (PP), de oposição, no entanto, exigiu que Madri convoque o embaixador venezuelano para protestar e que o chanceler espanhol seja convocado a dar explicações no Congresso.

- Ele continua com essa coisa, porque evidentemente quer prosseguir com este jogo - disse ele. - Prefiro ficar com o que disse ele, de que a Venezuela quer ter boas relações com Espanha. O governo da Espanha quer que a Espanha se dê bem com a Venezuela, mas para isso deve pedir razoavelmente ao presidente da Venezuela que respeite nosso rei, nosso presidente e nossos ex-presidentes.

O ministro fez as declarações em resposta às insinuações do venezuelano, domingo, de que o monarca espanhol teria participado do golpe que tirou Chávez do poder por 47 horas em 2002. No dia anterior, Chávez chamara o ex-presidente espanhol José María Aznar de fascista durante a Reunião de Cúpula Ibero-Americana e, ao não permitir que o atual presidente José Luis Zapatero defende-se seu antecessor, provocou a reação de Juan Carlos, que disse ao venezuelano a frase que rodou o mundo: "Por que não se cala?"

O ministro do Exterior da Espanha, em entrevista ao "El País", declarou que pretende manter boas relações com o país de Chávez, mas disse que, se não houver respeito, irá reagir.

- Não creio que isso venha a afetar as relações com a Venezuela. Queremos ter boas relações com todos, mas sempre com respeito às instituições. Se não formos respeitados, temos que reagir.

Oposição critica chanceler espanhol

A secretária de Estado da Espanha para a região ibero-americano, Trinidad Jiménez, disse que aumentar o tom das declarações não "beneficia ninguém":

- O incidente ficou nisso mesmo, num incidente, um encontrão. O que deve fazer um governo responsável é defender a honra e a dignidade de seu país e tratar de minimizar os riscos levando em conta que temos relações muito intensas com estes países.

Jiménez, que esteve na Venezuela semana passada e chegou a conversar com Chávez, disse que era impossível prever a postura agressiva do venezuelano numa reunião de cúpula de chefes de Estado e de governo, "muito menos na presença de sua majestade, o rei, e do presidente do governo".

- As relações com a Venezuela eram corretas e não era previsível o que ocorreu - disse ela.

O secretário-geral do PP, Angel Acebes, porém, criticou a resposta do governo a Chávez. Ele afirmou que as declarações do venezuelano sobre a possibilidade de o rei ter participado do golpe de 2002 "são gravíssimas".

- É necessário convocar o embaixador venezuelano em nosso país para expressar nosso protesto enérgico por estes insultos - disse ele.

Acebes também afirmou que o PP pretende convocar Moratinos para dar explicações ao Congresso:

- Ele deve explicar o conjunto de sua política exterior. Ela oscilou entre a irrelevância e o compadrio com os mesmos que agora insultam a Espanha.

O Partido Socialista respondeu que o ex-presidente Aznar, do PP, teve 14 encontros pessoais com Chávez, e que ele chegou a dizer ao venezuelano que "a Espanha não pode dar lições de democracia a ninguém". Além disso, o governo Aznar vendeu material militar à Venezuela, no valor de 100 milhões (R$255 milhões).

Aznar, que apesar das críticas de seu partido telefonou ainda no sábado para o presidente Zapatero para agradecer a sua resposta firme a Chávez, não deu qualquer resposta ao venezuelano ontem. Ele participou do lançamento de um livro, em Bogotá, na Colômbia, e limitou-se a fazer crises ao populismo.

- Há uma crescente ameaça do populismo na região, e é preciso ter agendas de liberdade para freá-la - disse ele.

Se a classe política discute sobre Chávez, os internautas se divertem. Centenas de piadas foram colocadas na rede. Vários sites chegaram a disponibilizar a frase do rei para ser baixada como ringtone de celulares.