Título: Ex-mulher também critica reforma de Chávez
Autor: Valente, Leonardo
Fonte: O Globo, 13/11/2007, O Mundo, p. 37

Crescem vozes discordantes dentro da rede de apoio ao presidente venezuelano por mudanças na Constituição.

CARACAS. A polêmica em torno da reforma constitucional da Venezuela está provocando a cada dia novas baixas na rede apoio do presidente Hugo Chávez. Assessores próximos, aliados importantes e até mesmo pessoas de seu relacionamento íntimo estão na lista dos que passaram a fazer oposição pública nas últimas semanas. A primeira grande baixa foi a do ex-ministro da Defesa Raúl Baduel. No fim de semana, foi a vez do cientista político Ricardo Combellas, um dos acadêmicos mais próximos do presidente e um dos elaboradores da Constituição de 1999. Ontem, foi a vez da ex-mulher de Chávez e ex-primeira dama, Marisabel Rodríguez, a romper o silêncio e se posicionar contra a reforma.

¿ Estão destruindo uma Constituição que foi produto de uma discussão válida e legítima. A reforma só favorece e fortalece o presidente e não o povo ¿ disse ela.

Marisabel, de 42 anos, com quem Chávez tem uma filha de 10 anos, casou-se novamente este ano e foi demitida de seu cargo à frente de uma fundação infantil que tradicionalmente é dirigida por primeiras-damas da Venezuela.

Pesquisa revela apoio à reforma da Constituição

Por sua vez, Combellas, um dos defensores de Chávez na academia venezuelana, também se voltou contra o Palácio Miraflores por causa da reforma constitucional e diz que ela não terá validade legal e pode levar o país ao caos e à violência.

¿ Essas reformas tão profundas só teriam validade com a convocação de uma Assembléia Constituinte. Sem isso, vamos mergulhar numa crise institucional muito grave ¿ disse.

O ex-ministro da Defesa Raúl Baduel, amigo íntimo de Chávez, que na semana passada começou a criticar publicamente a reforma, pediu ontem que o presidente retire o projeto ¿para garantir a paz e a estabilidade do país¿.

¿ Pelo bem do país, peço ao presidente que retire essa proposta de reforma e garanta, assim, a paz e a estabilidade de nossa pátria ¿ disse.

Mas, apesar das baixas, o governo comemora os resultados das últimas pesquisas. Segundo sondagem do North America Opinion Research, divulgada ontem, 52% dos entrevistados dizem que pretendem votar ¿sim¿ pela reforma, 38% votarão no ¿não¿ e 10% ainda estão indecisos.

Já uma pesquisa feita pelo Instituto Venezuelano de Análise de Dados (Ivad), cerca de 60% dos entrevistados dizem aprovar o governo Chávez e 52% apoiariam a reeleição do presidente. A pesquisa aponta ainda os maiores problemas do país na opinião dos venezuelanos: a violência, segundo 72% dos entrevistados, e o desemprego, para 42%.