Título: Lula: alternativa para vaga permanente na ONU
Autor: Brígido, Carolina
Fonte: O Globo, 13/11/2007, O Mundo, p. 38

Presidente propõe criação de órgão paralelo para que países em desenvolvimento sejam ouvidos sobre conflitos.

BRASÍLIA. O presidente Luiz Inácio Lula da Silva sugeriu ao secretário-geral da ONU, Ban Ki-Moon, a criação de uma instância paralela ao Conselho de Segurança da instituição para que países em desenvolvimento possam ser ouvidos sobre conflitos internacionais nos quais não tenham interesse direto. Lula propôs, por exemplo, que o Brasil, a África do Sul e a Índia sejam consultados pela ONU na solução de impasses entre o Oriente Médio e os Estados Unidos, agindo como uma espécie de mediadores. A proposta funcionaria como um plano B para garantir que o Brasil seja ouvido em conflitos internacionais centrais, mesmo sem ocupar uma cadeira permanente no Conselho de Segurança - pleito já antigo do governo brasileiro diante dos países-membros da ONU.

- Não se pode imaginar que os Estados Unidos criem os problemas e depois sejam mediadores da situação - teria dito Lula, segundo um assessor presente ao encontro.

A proposta foi apresentada ontem, durante um almoço no Itamaraty, que também contou com a presença do ministro das Relações Exteriores, Celso Amorim, e com o ministro da Defesa, Nelson Jobim. Ban Ki-Moon teria ouvido atentamente e anotado a sugestão. No encontro, Lula voltou a defender a vaga permanente do Brasil no órgão e a reformulação da estrutura da ONU. A participação ativa do Brasil no conselho depende diretamente de uma reforma no organismo, que ainda está sob negociação. Lula afirmou que a forma como a ONU é organizada está engessada há 60 anos.

- O presidente disse que é preciso acelerar as mudanças no Conselho de Segurança. Todos reconhecem que é necessário reformar a ONU. Ele também sugeriu que países em desenvolvimento fossem ouvidos sobre conflitos. Um grupo de países em desenvolvimento poderia contribuir para jogar um pouco de ar novo em negociações que estão aí há anos, sem que haja solução. Às vezes, é necessário ter interlocutores novos, países sem interesse direto na causa, para opinar - explicou Celso Amorim.

Segundo o ministro, Ban Ki-Moon elogiou o desempenho do Brasil em missões de paz no Haiti e no Timor Leste. Aproveitou para pedir a Lula ajuda logística para a reconstrução de Darfur, no Sudão. A região passa por um conflito armado e, se houver um cessar-fogo, a ONU deverá intervir com uma missão de paz. O secretário-geral teria solicitado, principalmente, helicópteros. Lula teria concordado, mas a proposta ainda depende de aprovação do Congresso.

Elogios à redução do desmatamento

O presidente da Venezuela, Hugo Chávez, assunto inevitável em conversas sobre política internacional após a discussão pública com o rei da Espanha, Juan Carlos, também rondou o almoço. Segundo o Itamaraty, o tema foi mencionado por Lula e Ban Ki-Moon teria apenas comentado que soube do episódio pelo noticiário.

Em visita de três dias ao Brasil, o secretário-geral pareceu bastante preocupado com questões ambientais, segundo interlocutores. Ban Ki-Moon teria elogiado o desempenho do governo brasileiro no setor, com a redução do desmatamento na Amazônia e o investimento em biocombustíveis. O secretário-geral teria dito que passará a citar o exemplo do Brasil em encontros mundiais sobre meio ambiente - como o que acontecerá em Bali, em dezembro. No evento, será debatida uma alternativa ao protocolo de Kioto.