Título: Sessão longa e com surpresas
Autor: Jungblut, Cristiane
Fonte: O Globo, 14/11/2007, O País, p. 3

Governo teve trabalho com senadores que ameaçavam mudar votos.

BRASÍLIA. Apesar do acordo fechado dentro da base, de manhã, o governo ainda teve que administrar algumas surpresas na longa e tensa sessão da Comissão de Constituição e Justiça do Senado (CCJ). Além da substituição do senador Pedro Simon (PMDB-RS), o líder do PDT, Jefferson Peres (AM), anunciou que iria se abster, apesar de ter "concordado" com o acordo e de seu partido ter saído do encontro com o ministro Guido Mantega anunciando a adesão. Surpreendendo os líderes governistas, Peres ameaçou votar contra, no plenário do Senado.

A oposição, sabendo que o governo venceria por 12 a 9, além de uma abstenção, decidiu estender ao máximo a sessão da CCJ, para marcar posição e atrasar a votação.

A ausência de Simon, substituído pelo líder da bancada, Valdir Raupp, foi criticada pela oposição e dominou o início da reunião. E deputados do DEM compareceram em peso, para reforçar o coro contra a CPMF.

O senador Flexa Ribeiro (PSDB-PA) tentou pedir vistas do voto paralelo do líder do governo no Senado, Romero Jucá (PMDB-RR), o que não é possível pelo regimento. Ele arrancou risos ao lembrar que Jucá já foi líder do governo do tucano Fernando Henrique.

- Jucá foi líder do governo Fernando Henrique, é líder do presidente Lula e será líder do próximo governo, pelo PSDB - disse Ribeiro.

O senador Valter Pereira (PMDB-MS), outro da ala resistente da base aliada, disse que votaria a favor ontem na CCJ. Mas também adiantou que poderá mudar de posição no plenário, se o governo não enviar uma proposta de reforma tributária em 30 dias.

A senadora Kátia Abreu (DEM-TO), que apresentou relatório pela extinção da CPMF, voltou a criticar os gastos do governo:

- Quem vai desonerar a CPMF na boca do caixa do supermercado?

Vários senadores da oposição, inclusive o líder Arthur Virgílio (PSDB-AM), contestaram os números dados pelo governo sobre o impacto do acordo com os aliados:

- Não haverá essa perda de R$2 bilhões em 2008. É uma desoneração ridícula na CPMF em 2008. É só o desejo de enrolar a base aliada.

Depois de derrotado o parecer de Kátia - e antes da votação do parecer de Jucá, pela manutenção da CPMF - houve mais uma brincadeira da oposição para estender a sessão. Flexa Ribeiro, mais cedo, desafiara Eduardo Suplicy (PT-SP) a listar os nomes dos 37 ministros do governo Lula. Na sua hora de votar, Suplicy quis ler os 37 nomes, os petistas gritaram "Não, pelo amor de Deus, não! Vamos votar". Ribeiro ainda provocou:

- Senador Suplicy, aproveite e faça uma explanação sobre seu projeto de renda mínima.

Novos gritos dos petistas pedindo não. E muitos risos.