Título: BRA pode ter parado para forçar ajuda, diz MP
Autor: Barbosa, Adauri Antunes
Fonte: O Globo, 14/11/2007, O País, p. 10

Trabalhadores do setor denunciaram locaute, que será investigado por procuradora; empresa aérea nega manobra.

SÃO PAULO. A paralisação da BRA, que cancelou seus vôos e demitiu seus 1.100 funcionários, pode ter sido locaute, manobra com a finalidade de pressionar governo e investidores para conseguir aporte financeiro. A denúncia foi feita ontem pela Federação Nacional dos Trabalhadores em Transportes Aéreos. O Ministério Público do Trabalho em São Paulo vai investigar a suspeita de locaute. A BRA negou a denúncia.

- Ela (a BRA) fez uma dispensa maciça. Suspendeu as atividades, o que pode de repente até indicar um ilícito, que é o locaute. Estamos analisando isso, mas pode indicar sim - disse a procuradora regional do Trabalho Oksana Maria Boldo, depois de uma audiência com representantes dos trabalhadores e da empresa.

De acordo com a procuradora, é preciso que seja feita uma auditoria para apurar a gestão da companhia aérea:

- A gente tem que estudar a situação. Tem que fazer uma apuração, uma auditoria para ver como foi a gestão. Na verdade, não tem parecido uma boa gestão. Não foi uma gestão muito salutar - disse Oksana.

Um dos indícios de locaute, segundo o presidente da Federação Nacional dos Trabalhadores em Transportes Aéreos, Uébio José da Silva, é o fato de a BRA ter encomendado 20 aviões da Embraer e disputado a compra de aviões da Vasp e, menos de 30 dias depois, dizer que não tem dinheiro para operar.

- A suspeita é que ocorreu locaute, para tentar pressionar o governo federal e abrir um canal de negociação. Queremos saber o que está realmente ocorrendo nos bastidores.

A BRA informou, por meio de sua assessoria, que não está fazendo locaute. De acordo com a advogada Sônia Aparecida Ribeiro Soares Silva, representante da BRA na audiência no Ministério Público do Trabalho, a crise da empresa não foi provocada por má administração.

- Todas as companhias aéreas sofreram com a atual crise do apagão, a crise dos controladores, problemas dos aeroportos. Todas as companhias aéreas estão vinculadas não só às dificuldades que cada empresa particularmente passa, mas com essa situação de caos aéreo - justificou.

Segundo ela, só 50 funcionários não receberam o último salário. A procuradora Oksana Boldo deu prazo até segunda-feira para que a BRA entregue documentos da rescisão de contrato dos funcionários.

- (A BRA) Conseguiu provar que está em dia com o Fundo de Garantia, salário até outubro. Situação bastante diferente das empresas aéreas que a gente viu irem para o beleléu - comentou a procuradora, referindo-se aos problemas enfrentados por Varig, Transbrasil e Vasp.

BRA: acordo com OceanAir vale para todos os passageiros

O diretor de Relações Institucionais da BRA, Danilo Amaral, disse que todos os passageiros de sua empresa devem voar pela OceanAir, como prevê contrato assinado entre as duas empresas e a Anac. Com isso, ele contestou o presidente da OceanAir, German Efromovich, segundo quem a companhia só garantiria o transporte dos passageiros dos vôos fretados.

- O contrato que temos com a OceanAir é de carregar todos os nossos passageiros. Passageiros das linhas regulares estão incluídos - afirmou Danilo, por meio de sua assessoria de imprensa.

Procurada ontem, a OceanAir não comentou as afirmações de Amaral.