Título: Um teto para caber no bolso
Autor: Casemiro, Luciana
Fonte: O Globo, 14/11/2007, Economia, p. 23

MERCADO EM CONSTRUÇÃO

Crédito facilitado faz explodir número de lançamentos no Rio. Desafio é a baixa renda.

Prestações a partir de R$199. É com esse valor que as construtoras estão trabalhando para fazer com que cada vez mais brasileiros encaixem a prestação da casa própria no seu orçamento. O alvo dos empresários é quem ganha a partir de 3,5 salários mínimos (em torno de R$1.200) e ainda paga aluguel. O número de lançamentos de imóveis com valor médio entre R$100 mil e R$150 mil, na Região Metropolitana do Rio, de janeiro a outubro, teve aumento de 646% em relação aos lançamentos nessa faixa de preço em todo o ano de 2006. No patamar até R$100 mil, o número de unidades já se equipara ao do ano passado.

Inflação controlada, taxas de juros em queda, mais empregos com carteira assinada, mudanças na legislação (como alienação fiduciária e pagamento do valor principal mesmo em caso de questionamento judicial) e ampliação de prazos de financiamentos imobiliários (de 25 para 30 anos) são alguns dos fatores que possibilitaram a expansão do mercado imobiliário não só no Rio, mas em todo o Brasil. As mudanças começaram, lentamente, há quase dez anos mas agora estão mudando a face do mercado imobiliário.

- Há cinco anos, seria necessária uma renda de 12 salários mínimos para obter R$80 mil de empréstimo. O mesmo valor hoje pode ser concedido a famílias que recebem sete salários por mês - diz José Pereira, superintendente-técnico da Associação Brasileira de Entidades de Crédito Imobiliário e Poupança (Abecip).

Especialista: condições no Rio estão mais favoráveis

Até setembro, o volume de financiamentos concedidos com recursos de caderneta de poupança, em todo o país, aumentou 136% em relação ao ano passado, segundo dados da Abecip. No Rio, a Caixa bateu um recorde em outubro, ultrapassando R$1 bilhão aplicados em habitação. Pelo levantamento da Associação dos Dirigentes de Empresas do Mercado Imobiliário do Estado do Rio (Ademi-RJ), já foram lançadas mais de dez mil unidades em várias faixas de renda. Todos esses números parecem grandiosos, mas os especialistas garantem que são pequenos perto da necessidade de moradias do país.

O maior desafio para o setor imobiliário é alcançar a população de baixa renda, com ganho de até cinco salários mínimos mensais. É nessa faixa que estão concentrados 92% do déficit de 7,9 milhões de moradias do país. De olho nesse nicho, iniciativa privada e governos (federal, estadual e municipal) procuram um modelo, inspirado em parte na experiência mexicana, que inclui subsídio, desburocratização e mercado secundário de negociação de créditos.

A relação entre crédito imobiliário e PIB (conjunto de bens e serviços produzidos pelo país) está em torno de 2%. O percentual é baixo se comparado a outros países em desenvolvimento, como México e Chile, em que passa de 10%. Por isso, os especialistas dizem que não há um boom, mas o início de um novo mercado.

- O setor ficou estagnado por 20 anos. Por isso, qualquer movimento parece grandioso. Estamos longe do esgotamento. Nosso desafio agora é achar um modelo para atender a demanda da faixa que ganha até cinco salários mínimos, o que compreende, além da desburocratização, a entrada de outras fontes de recursos, via mercado de securitização, inclusive recursos externos. Há muitos fundos de pensão estrangeiros interessados em investir aqui - diz Paulo Safady, presidente da Câmara Brasileira da Indústria da Construção (CBIC).

- Há pelo menos 30 anos o Rio não vive um momento tão favorável. O estado vai receber cerca de R$70 bilhões de investimentos nos próximos cinco anos. São investimentos que vão de Itaboraí a Caxias, incluindo Norte Fluminense, ou seja, que vão alavancar os empreendimentos e reduzir a concentração dos lançamentos. Nunca tivemos um movimento tão virtuoso por aqui - diz o superintendente da Caixa para o estado, José Domingos Vargas.

Quem ganha com isso é a população fluminense, que, além do crédito, terá a possibilidade de escolher. É o caso de Luciana Arruda, 26 anos, que acaba de comprar, com o noivo, seu primeiro apartamento, um imóvel em construção em Jacarepaguá.

- Achamos que seria bem mais difícil e caro comprar um apartamento na planta. Que precisaríamos ter uma poupança para dar sinal de 50% do imóvel, mas achamos muitas ofertas, com facilidade de pagamento - diz Luciana.

A enfermeira Roberta Gonçalves e sua prima Jurá Gonçalves acabam de comprar dois imóveis na planta em Campo Grande. Moradora de Jabour, perto de Campo Grande, Roberta diz que há tempos procurava uma oferta no bairro, mas só agora encontrou um empreendimento com lazer e segurança.

- A compra foi superfacilitada, e a estabilidade nos permitiu pensar em investir. Queria voltar às raízes em Campo Grande, mas até então não existia oferta - diz Roberta.