Título: Modelo mexicano inspira propostas para mercado de baixa renda no Brasil
Autor: Casemiro, Luciana
Fonte: O Globo, 14/11/2007, Economia, p. 24

MERCADO EM CONSTRUÇÃO: Seminário vai debater déficit habitacional do país.

Banco Azteca estuda investir em crédito imobiliário com o uso do FGTS.

As classes média e média baixa já estão atendidas pelos modelos de financiamento e produtos que existem atualmente no mercado imobiliário, avaliam os especialistas. Para deslanchar o segmento de baixa renda, no entanto, ainda há muito a acertar - o que inclui estabelecer uma política de governo para habitação de interesse social, desburocratizar o crédito para construtores e consumidores e reduzir custos cartoriais. O apetite da iniciativa privada (bancos, incorporadores e investidores) por esse segmento, no entanto, é crescente e tem levado à busca de soluções, a maioria delas inspiradas no modelo mexicano.

Uma comissão formada por empresários e representantes do governo do Estado do Rio esteve no México, na semana passada, estudando mecanismos de financiamento para habitação de população de baixa renda. O mesmo caminho já havia sido feito, em março e abril, pelo Sindicato da Indústria da Construção de São Paulo (Sinduscon-SP), que realizará, no dia 23, um seminário justamente para debater alternativas para o déficit habitacional brasileiro a partir do "modelo tequila".

- Não dá para pegar o modelo mexicano e copiar para o Brasil. O que propomos é um "modelo caipirinha". Mas há muito o que aprender com a experiência do México, como o foco de recursos para a produção, a desburocratização do crédito e o fortalecimento do mercado de hipotecas - diz João Cláudio Robusti, presidente do Sinduscon-SP, destacando que as propostas a serem apresentadas são fruto de um estudo encomendado à FGV Projetos.

O secretário estadual de Fazenda, Joaquim Levy, que esteve na missão fluminense à Cidade do México semana passada, acredita que uma das lições é a quebra de paradigma entre financiamento e poupança:

- Precisamos pensar, por exemplo, na padronização de recebíveis que possibilitem a venda de papéis no exterior, como acontece no México. É preciso uma mobilização rápida para que possamos aproveitar este momento do mercado.

Se buscamos inspiração no México, os mexicanos buscam oportunidades no Brasil. O Banco Azteca, especializado em crédito para baixa renda, mostrou interesse em financiar a compra de casa própria por aqui, conta o presidente do Sinduscon-Rio, Roberto Kauffmann:

- Eles estão entrando no país pelo Nordeste, mas sugeri a eles que viessem para o Rio através do crédito imobiliário e já habilitados a operar com recursos do FGTS. Os executivos do Azteca mostraram grande interesse.

O modelo mexicano, de grandes empreendimentos no molde de bairros, inspirou a criação da Bairro Novo, uma parceria das construtoras Odebrecht e Gafisa. A empresa pretende lançar grandes empreendimentos como bairros planejados. O primeiro será em São Paulo, com mais de duas mil unidades. Já há áreas compradas no Nordeste e no Rio, onde serão lançadas mais de cinco mil unidades.

- O foco são famílias com renda de cerca de 3,5 salários mínimos. Faremos prioritariamente apartamentos de dois quartos, na faixa dos R$60 mil, com toda a infra-estrutura - adianta Roberto Senna, presidente da Bairro Novo.

No Rio, a Dominus lançou, em parceira com a CR2, um condomínio em Alcântara com 4 mil unidades. Das 1.200 da primeira fase, lançada no fim de outubro, um terço já foi vendido.

- São unidades a partir de R$78 mil para um público-alvo com renda de R$2 mil - diz Marcelo Oliveira, gerente de incorporações da Dominus

Para Rubem Vasconcelos, presidente da Patrimóvel Imobiliária, só não vai comprar apartamento quem não quiser:

- A geração do aluguel, finalmente, vai poder comprar a casa própria. Nosso público está principalmente na faixa dos 35 e 40 anos, adquirindo seu primeiro imóvel.

É o perfil de Homero Moutinho Sobrinho, de 41 anos, que acaba de comprar um apartamento em Jacarepaguá.

- Antes, não conseguia conciliar o aluguel e as contas do dia-a-dia com as parcelas de imóvel na planta. Agora, deu. A prestação é de R$450 - conta.

As vendas nesse segmento, diz Rogério Chor, presidente da Ademi/RJ, são um sucesso:

- A velocidade de venda dos empreendimentos nessa faixa é imbatível, mas não vamos deixar de ter lançamentos em outros patamares. O que acontece é que o mercado ampliou seus tentáculos.