Título: Petrobras desiste de projeto na Venezuela
Autor: Ribeiro, Fabiana
Fonte: O Globo, 14/11/2007, Economia, p. 30

Gabrielli diz que estatal não planeja mais investir no gás de Mariscal Sucre. Motivo seria divergência com PDVSA.

ROMA, RIO e BRASÍLIA. A Petrobras afirmou que não planeja mais investir no projeto de gás de Mariscal Sucre, na Venezuela. Segundo analistas, o projeto foi suspenso principalmente devido a desentendimentos sobre o uso do gás.

- Estamos fora do projeto de Mariscal Sucre - disse o presidente da Petrobras, José Sergio Gabrielli, à agência de notícias Reuters, em entrevista ontem. - Nossa avaliação acerca de Mariscal mostrou que ele não é atraente para nós.

Gabrielli não quis dar mais detalhes. O presidente da Petrobras acrescentou que, apesar de algumas recentes reduções no fornecimento para o mercado brasileiro, não há escassez de gás:

- Essa crise é falsa.

O mercado já esperava a desistência da Petrobras em relação a Mariscal Sucre. O especialista Marco Tavares, da Gas Energy, explicou que havia divergências entre a Petrobras e a estatal venezuelana PDVSA em relação ao uso do gás a ser produzido.

A Petrobras estava interessada em instalar uma unidade para produção de gás natural liquefeito (GNL), para o produto ser exportado ao Brasil por navios. A PDVSA, por sua vez, quer desenvolver a produção para consumo interno, já que precisa de muito gás para viabilizar sua produção de petróleo, do tipo pesado. Como os combustíveis são vendidos no mercado interno a preços subsidiados, o projeto passou a não ser interessante para a Petrobras - ou seja, significaria um investimento elevado para o gás sair com preços subsidiados.

A Petrobras e a PDVSA têm outros dois projetos que pretendem desenvolver em conjunto. Um é a construção de uma refinaria em Pernambuco, na qual a brasileira terá 60% e a venezuelana, 40%. Outro é a produção de petróleo do campo de Carabobo, na Venezuela, onde a Petrobras ficaria com 40% de participação e a PDVSA, com 60%. Os dois projetos estão relacionados, já que, para um ser viabilizado, o outro tem que ser efetuado. A Petrobras já iniciou a construção da refinaria, mesmo sem a ratificação da PDVSA. As negociações para Carabobo, segundo fontes, continuam em andamento.

O pragmatismo de resultados, que, segundo fontes do governo brasileiro, é a característica marcante do presidente da Venezuela, Hugo Chávez - e denotaria ausência de compromissos de longo prazo -, pode levar o presidente Luiz Inácio Lula da Silva a adiar o projeto de construção do megagasoduto da América do Sul, estimado em US$20 bilhões. Lula decidirá, até o fim do mês que vem, se aceitará o desafio de assumir a obra. Esse cenário de instabilidade, que vem sendo transmitido por Chávez, seria outra das principais razões da desistência em Mariscal Sucre. Entre os fatores que impedem uma posição mais firme de Lula quanto à construção do gasoduto de quase nove mil quilômetros - que sairia da Venezuela, cortaria o Brasil e chegaria à Argentina -, está a falta de dados concretos quanto ao total das reservas de gás natural na Venezuela. Do ponto de vista político, pesa a personalidade polêmica de Chávez.

Segundo fontes do Itamaraty e do Palácio do Planalto, como a Venezuela é fundamental para a integração sul-americana e tem grande importância comercial para as indústrias brasileiras, Lula não pretende simplesmente desistir do gasoduto. Mas deve fugir de compromissos de curto e médio prazos.

- O gasoduto pode levar até dez anos para ser construído. É um projeto de Estado, uma obra que cruzará o país. Precisamos ter segurança - disse uma fonte da área diplomática. (Ramona Ordoñez e Eliane Oliveira, com agências internacionais)