Título: A prova de fogo de sarkosy
Autor: Berlinck, Deborah
Fonte: O Globo, 14/11/2007, O Mundo, p. 32
Sindicatos desafiam o governo em greve geral e impopular contra reformas.
Começou ontem à noite a queda-de-braço entre o presidente Nicolas Sarkozy e os sindicatos: uma greve geral foi deflagrada às 20h (17h em Brasília) e deverá paralisar o país hoje contra a reforma do regime especial de aposentadorias, que permite a certas categorias parar de trabalhar mais cedo. Sarkozy, que se elegeu há seis meses prometendo ¿ruptura¿, garantiu que nada vai tirá-lo do caminho das reformas.
¿ Eu vou fazer estas reformas até o final. Nada vai me desviar deste objetivo. O povo francês aprovou estas reformas. Eu disse a todos que as faria antes das eleições ¿ disse Sarkozy.
Paralisações em mais setores
O presidente tem a seu favor a confirmação das sondagens, que mostram que seis em cada dez franceses são contrários à greve. A determinação do presidente em não ceder ¿ como fez Jacques Chirac várias vezes nos seus 12 anos no comando do país ¿ vai ser posta à prova. O movimento grevista, planejado inicialmente para os transportes, pode se estender não somente por vários dias, como para outras áreas. Estudantes e trabalhadores do setor energético prometeram se unir aos grevistas do transporte, engrossando o caldo.
Ontem, minutos depois de iniciada oficialmente a greve, o primeiro-ministro François Fillon, numa entrevista ao principal jornal televisivo, fez um apelo ao ¿senso de responsabilidade¿ dos grevistas.
¿ É uma reforma que o presidente havia anunciado na campanha (eleitoral). É uma reforma necessária ¿ insistiu.
Ele frisou o principal argumento do governo: a grande maioria de franceses se aposentam depois de 40 anos de serviço. Apenas 500 mil se aposentam mais cedo. É esta minoria que não está contente com a reforma. O governo injeta por ano 5 bilhões (R$12,8 milhões) num fundo de pensões especiais, porque a contribuição dos trabalhadores não dá para cobrir.
O primeiro-ministro conclamou os sindicatos a negociarem com as empresas e disse que o governo fez tudo para evitar uma greve.
¿ Há muita coisa para discutir com as empresas. Mas é preciso discutir ¿ disse, acrescentando que o governo permanece determinado a fazer a reforma, ¿mas não quer o confronto¿.
Os estudantes estão se mobilizando por outro motivo. Querem derrubar uma lei aprovada recentemente no governo Sarkozy que dá mais autonomia às universidades. O governo diz que a lei era necessária, pois as universidades francesas ¿ atadas a um velho modelo de controle estatal ¿ estão perdendo terreno para outras universidades no mundo. Os estudantes temem, por outro lado, que a autonomia leve a um desligamento financeiro do Estado nas universidades.
Ontem, 17 das 85 universidades do país estavam bloqueadas por estudantes. A polícia teve que usar gás lacrimogêneo para dispersar um protesto na universidade Paris X, em Nanterre. Hoje, todos os meios de transporte serão afetados, sobretudo o metrô de Paris e os trens que ligam a cidade às periferias. Hotéis parisienses anunciaram vários cancelamentos de reserva por casa da greve.
O ministro do Trabalho, Xavier Bertrand, admitia ontem que a greve poderia durar ¿vários dias¿. Empregados de duas gigantes estatais do setor energético ¿ GDF, de gás, e EDF, de eletricidade ¿ aderiram ao movimento, assim como os funcionários da Ópera de Paris, que cancelou o espetáculo de hoje à noite. Novembro vai ser um mês de prova de fogo para Sarkozy: no dia 20 haverá greve de professores e funcionários públicos em protesto contra corte de empregos, e no dia 29, será a vez dos magistrados. Até o serviço meteorológico vai entrar em greve, no dia 20.