Título: Mais US$ 1 tri desaparecerá
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Fonte: Correio Braziliense, 22/04/2009, Economia, p. 9

Bancos dos EUA, da Europa e do Japão ainda receberão uma montanha de dólares antes de o sistema financeiro começar a funcionar adequadamente. Dessa forma, custo da crise chegará a US$ 4 trilhões

O Relatório de Estabilidade Financeira Global, divulgado ontem pelo Fundo Monetário Internacional (FMI), contém um número estarrecedor. Em linguagem técnica, prevê que os combalidos bancos europeus, japoneses e norte-americanos ainda receberão um socorro de, no mínimo, US$ 900 bilhões, sendo mais provável que essa ajuda supere US$ 1 trilhão. O estudo classifica essa avaliação de ¿realista¿, baseado nas perdas ocorridas até agora e na frágil saúde do sistema financeiro. Dessa forma, o novo custo previsto para a crise econômica passa a ser de US$ 4 trilhões, pois dirigentes do FMI haviam citado, há alguns meses, a cifra de US$ 3 trilhões. O volume total equivale a pouco mais de três PIBs (Produto Interno Bruto) do Brasil.

O Fundo Monetário Internacional admitiu que foi ¿otimista¿ na projeção divulgada em outubro de 2008, quando previu que a oferta de crédito não cairia, limitando-se a uma desaceleração, caso houvesse uma injeção de US$ 675 bilhões em capital novo no sistema bancário internacional. Agora, além da necessidade de US$ 1 trilhão em ¿capital fresco¿, o FMI acredita em retração na oferta de empréstimos às empresas. O Departamento Monetário e de Mercado de Capitais do FMI entende que há ¿deterioração do ambiente econômico mundial¿ e, por isso é preciso reavaliar a viabilidade de longo prazo dos bancos.

Não é à toa que poucos se arriscam a garantir que todo o custo da crise já está contabilizado. O FMI calculou a quantia de US$ 4,054 trilhões, somando as perdas vinculadas à desvalorização dos ativos financeiros americanos (US$ 2,712 trilhões), europeus (US$ 1,193 trilhão) e japoneses (US$ 149 bilhões).

O custo é o que tiveram e o que terão que suportar o conjunto das instituições financeiras em consequência da queda de valor dos ativos que garantem seus créditos, como os imóveis.

Estatização Num momento em que os bancos americanos publicam resultados trimestrais insuficientes, o FMI deixa entrever que os rendimentos anunciados seriam apenas uma ilusão. O Fundo avalia que os bancos arcarão com 61% do custo total de US$ 4,054 trilhões. Desse total, dois terços devem ser repassados aos bancos. Suas finanças não estão preparadas, insiste o FMI. ¿A admissão dessas perdas é incompleta e o capital é insuficiente num cenário de recessão¿.

Para encontrar fundos próprios, proporcionais aos empréstimos feitos e correspondentes ao período anterior ao estouro da bolha global, os bancos americanos e europeus devem, respectivamente, captar US$ 275 bilhões e US$ 600 bilhões em capitais novos. Se quiserem voltar às normas mais prudentes que prevaleciam em meados dos anos 1990, a cifra sobe, respectivamente, para US$ 500 bilhões e US$ 1,2 trilhão.

No atual estado dos mercados financeiros, a tarefa de captar fundos privados será extremadamente difícil. Para o Fundo, a nacionalização de alguns bancos em dificuldades pode ser uma solução, mas não é a que defende. ¿Como consequência da incapacidade atual para atrair capitais privados, uma tomada de controle provisória por parte do Estado pode ser necessária¿, afirma o FMI.

EUA O secretário do Tesouro dos Estados Unidos, Timothy Geithner, defendeu ontem, no Congresso americano, o programa de resgate bancário. Segundo ele, o governo americano dispõe ainda de US$ 134,6 bilhões para estabilizar o sistema financeiro.

¿Temos os recursos para avançar no plano de estabilização¿, escreveu Geithner em carta dirigida à comissão parlamentar responsável por controlar a distribuição de US$ 700 bilhões que o Congresso colocou à disposição do Tesouro em outubro para salvar o sistema bancário americano.