Título: Renan passa feriadão em busca de votos
Autor: Paul, Gustavo
Fonte: O Globo, 19/11/2007, O País, p. 4

Senador promete deixar a presidência da Casa se escapar da cassação.

BRASÍLIA. O presidente licenciado do Senado, Renan Calheiros (PMDB-AL), fechou neste fim de semana uma conta que lhe garante um placar favorável no processo de cassação que será votado em plenário na quinta-feira. No cenário mais otimista, espera conseguir até 50 votos pela sua absolvição, incluindo abstenções e eventuais ausências. Ele fez uma forte articulação durante o feriadão para ampliar votos em setores da oposição.

Renan confirmou a interlocutores de todos os partidos que está disposto a renunciar imediatamente ao cargo de presidente do Senado se conseguir salvar seu mandato. Mas, nessas conversas, disse que precisaria de uma votação expressiva a seu favor. Isso lhe daria a segurança de que também seria absolvido em outros dois processos. No julgamento de quinta-feira, Renan responderá à acusação de que usou laranjas para comprar rádios e um jornal em Alagoas.

- O Renan está usando a arma que tem. Ele está dizendo que vai renunciar para criar um ambiente de solidariedade. A minha avaliação é que ele escapa. A temperatura em torno do assunto esfriou muito, e os senadores já não estão mais preocupados com o desfecho do processo. Já se fala numa renúncia na quinta-feira, no dia da votação, para criar um clima favorável à absolvição - disse o senador Renato Casagrande (PSB-ES), um dos relatores do primeiro processo contra Renan.

Planalto articula absolvição de Renan

Com a conta praticamente fechada, Renan deu sinal verde para que o presidente interino, senador Tião Viana (PT-AC), mantenha na pauta desta semana o parecer do senador Jefferson Peres (PDT-AM), favorável a sua cassação. Viana foi encarregado pelo Palácio do Planalto de articular a absolvição de Renan. Só haverá recuo na data de votação se a contabilidade mudar na última hora, o que é pouco provável, segundo interlocutores de Renan.

A estratégia montada no fim de semana será deflagrada a partir de hoje, quando Renan vai enviar aos 80 senadores um memorial com sua defesa. Será o momento final para que ele possa conferir a contabilidade de seus votos. No primeiro processo de cassação, quando foi acusado de usar dinheiro de um lobista para pagar despesas pessoais, foi absolvido com 40 votos favoráveis, 35 contrários e seis abstenções.

Entre os aliados e até mesmo na oposição, a expectativa é de que Renan consiga o apoio informal de setores de DEM e PSDB. Caso isso aconteça, diz um peemedebista envolvido nas negociações, o problema de Renan estará resolvido, porque ele conta com apoio do Planalto e de parte expressiva do PT.

O prazo para uma decisão de Renan será quarta-feira, quando a Comissão de Constituição e Justiça (CCJ) votará um parecer sobre o relatório de Peres. Ainda há dúvidas entre os aliados próximos sobre o prazo correto da renúncia: antes ou depois da votação.

- O Renan não está desejoso de voltar ao cargo de presidente do Senado. Mas quer uma definição para o seu mandato. Até porque, se renuncia antes, a situação dele fica indefinida. E isso é tudo o que Renan não quer - disse o senador Edison Lobão (PMDB-MA).

Alguns interlocutores chegaram a propor, de forma reservada, que Renan renunciasse ao cargo antes da votação em plenário. Seria um gesto concreto para conquistar a simpatia de vários senadores de DEM, PSDB e até de peemedebistas e petistas que votaram contra ele no primeiro processo.