Título: Petróleo na medida
Autor: Nogueira, Danielle
Fonte: O Globo, 19/11/2007, Economia, p. 15

Opep promete fornecimento "adequado e suficiente", mas não fala em elevar produção.

Os membros da Organização dos Países Exportadores de Petróleo (Opep) se comprometeram a fornecer suprimentos "adequados, em tempo e suficientes" para o mercado mundial . No fim da 3ª Cúpula de chefes de Estado da Opep, em Riad, na Arábia Saudita, os 13 membros do cartel também prometeram aprofundar sua atuação social e ambiental. Apesar da insistência de alguns líderes, o documento final não mencionou a contínua queda do dólar frente a outras moedas.

Os chefes de Estado disseram que farão os investimentos necessários para assegurar uma oferta de petróleo que atenda à crescente demanda. A Opep vem sendo acusada, especialmente pelos EUA e pela Agencia Internacional de Energia, de não ter capacidade de atender à demanda, o que estaria levando ao aumento nos preços do petróleo. A organização entende, porém, que a alta nas cotações do barril deve-se ao enfraquecimento do dólar, à especulação de mercado e a razões geopolíticas.

Não há menção, no documento final, sobre a necessidade de ampliar a produção dos países da Opep. Isso será debatido numa reunião técnica em dezembro.

Documento final não cita queda do dólar

Antes da reunião técnica, porém, os ministros das Finanças da Opep vão discutir a queda do dólar, que tem diminuído a receita dos exportadores de petróleo. Em Riad, o Irã chegou a propor que o barril deixasse de ser cotado em dólar. A Venezuela enfatizou que a queda da moeda americana deveria ser contida, embora não tenha explicitado de que forma. Ambos tiveram apoio do Equador e da Nigéria. A Arábia Saudita, tradicional aliada dos EUA, evitou que essa preocupação fosse explícita na declaração final.

Na sexta-feira, respondendo a uma proposta da Venezuela, o ministro de Relações Exteriores saudita dissera, sem saber que as declarações eram transmitidas ao vivo para a sala de imprensa, que não seria aconselhável incluir a depreciação da moeda americana na declaração, pois "jornalistas poderiam ler, e o dólar poderia entrar em colapso".

Ontem, perguntado se a Venezuela havia sido derrotada em sua proposta, o presidente Hugo Chávez disse que não. O venezuelano previu a continuidade da desvalorização do dólar e "a conseqüente queda do império americano", e propôs que a America Latina criasse uma moeda única para neutralizar os efeitos da depreciação da divisa americana. O presidente do Equador, Rafael Correa, enfatizou que a desvalorização do dólar leva a uma transferência de renda das nações produtoras para as consumidoras, uma vez que os exportadores de petróleo têm que vender um volume cada vez maior:

- É conveniente para nós (da Opep) que o petróleo seja negociado em uma moeda forte.

A declaração defende o desenvolvimento sustentável. Mas traz apenas uma orientação para que os ministros da Fazenda dos países-membros "estudem mecanismos de cooperação financeira, incluindo os propostos por alguns chefes de Estado durante a conferência".

O comunicado traz a preocupação da Opep com o aquecimento global, afirma que esse é um desafio de longo prazo e enfatiza a importância do papel dos governos. Segundo a agência Reuters, Qatar, Kuwait e Emirados Árabes Unidos ofereceram US$150 milhões cada para um fundo destinado a pesquisas sobre mudanças climáticas e meio ambiente. A Arábia Saudita doará outros US$300 milhões.

A Opep terminou a cúpula com mais dois membros (Equador, que voltou à organização, e Angola). Na declaração, há uma orientação para fortalecer o diálogo entre produtores e consumidores, a exemplo do que ocorre com China, Rússia e União Européia. Os EUA não são mencionados. (Com agências internacionais)

(*) A repórter viajou a convite do governo da Arábia Saudita