Título: Lula diz que Planalto não fará mais concessões e critica senadores tucanos
Autor: Damé, Luiza; Éboli, Evandro
Fonte: O Globo, 15/11/2007, O País, p. 4

CONFRONTOS NO CONGRESSO: Mantega: "Já fizemos tudo o que podíamos fazer".

Presidente diz que PSDB foi contraditório porque governadores querem a CPMF.

BRASÍLIA. O presidente Luiz Inácio Lula da Silva disse ontem que a votação da CPMF no Senado revelou uma contradição interna no PSDB: enquanto os governadores defendem a prorrogação do tributo, os senadores decidiram votar contra, e assim o fizeram na Comissão de Constituição e Justiça (CCJ). Lula afirmou que os senadores devem reconhecer a importância dos recursos da CPMF para os estados e aprovar a prorrogação até 2011. Para o presidente, só senador que é adversário político do governador votaria contra a CPMF.

Ao afirmar que o governo já fez as desonerações tributárias possíveis, incluindo a redução da alíquota da CPMF a partir de 2008, Lula deixou claro que não está disposto a fazer novas concessões para aprovar a CPMF no plenário.

- Acho que há uma contradição enorme dentro do PSDB, porque a governadora do Rio Grande do Sul (Yeda Crusius) quer que aprove a CPMF; o governador da Paraíba (Cássio Cunha Lima) quer; o (José) Serra quer, o Aécio (Neves) quer. Então quero saber: se os governadores do PSDB querem a CPMF, por que os senadores votariam contra? De qualquer forma, pode ser que algum senador que seja inimigo do governador queira trabalhar contra. Mas, se ele for pelo menos um brasileiro de bom senso, que entenda a realidade dos estados, certamente ele votará - disse, após almoço com o presidente da Guiné Bissau, João Bernardo Nino Vieira.

À noite, em discurso para cerca de quatro mil pessoas na abertura da 13ª Conferência Nacional de Saúde, Lula disse que não vai comprar briga com os senadores que pretendem votar contra a CPMF, mas afirmou que eles terão que explicar à sociedade sua posição. O presidente convocou os militantes da área da saúde presentes ao evento a pressionar os parlamentares.

- Não vou brigar com o Senado. Vou ser o Lulinha paz e amor. Quem quiser votar contra, vote. Quem quiser votar a favor, vote. É o estado de consciência de cada um. Eles não têm que prestar conta para mim.

Presidente pede mapeamento de recursos

Lula pediu que a bancada da saúde faça um mapeamento do valor da CPMF repassado aos estados. Citou Rio Grande do Sul e São Paulo, administrados pelo PSDB.

- Pergunte a governadora (Yeda Crusius) quanto ela recebeu este ano e se ela pode prescindir desse dinheiro. Pergunte para o Serra se ele pode prescindir. Se eles vão cobrir o que a CPMF dá hoje. Eles (os senadores) pensam que estão brigando comigo. Vão ter que explicar a 4.600 prefeitos quem vai dar dinheiro para aplicar na saúde.

Pela manhã, o ministro da Fazenda, Guido Mantega, já dissera que o governo fez todas as concessões:

- Já fizemos tudo o que poderíamos. Com essa proposta, até a oposição poderá ficar sensibilizada para a votação. Essa votação passa fundamentalmente pela base aliada, mas não descarto que parlamentares de oposição venham a apoiar a proposta, uma vez que já fizemos reduções e concessões que a tornam mais palatável. Também tem recursos para a saúde - disse Mantega. - Agora, por questão de coerência, seria melhor que aprovássemos não só com o apoio da base aliada como de membros da oposição.

Lula afirmou que não lamentaria a decisão dos tucanos contra a CPMF, porque eles retrucariam que, no passado, o PT também agia assim. Disse ainda que não apelaria aos senadores porque não existe "apelo à consciência do Congresso".