Título: Venezuela tem mudado o equilíbrio regional
Autor: Freire, Flávio
Fonte: O Globo, 17/11/2007, O País, p. 8

Para especialista, Chávez é o motivo real para as declarações de que reaparelhamento das Forças brasileiras é urgente.

SÃO PAULO. A necessidade de reaparelhar as Forças Armadas brasileiras, incluindo a construção de um submarino nuclear para proteger o recém-descoberto megacampo de petróleo na Bacia de Santos, como disse anteontem o ministro da Defesa, Nelson Jobim, é vista com elogios e ressalvas por especialistas do setor. O pesquisador do Núcleo de Estudos Estratégicos da Unicamp Luiz Alexandre Fuccille concorda com Jobim, mas, para ele, por trás das declarações de que tais iniciativas são urgentes para proteger a megarreserva de petróleo, está a velada preocupação com a Venezuela.

- O reaparelhamento da Força Armada da Venezuela tem mudado o equilíbrio estratégico regional - diz Fuccille, lembrando que o país do presidente Hugo Chávez comprou recentemente 24 modernos caças russos, enquanto o Brasil tem caças do início dos anos 60.

Projeto de submarino nuclear existe desde 1979

O pesquisador, no entanto, diz que a decisão de construir um submarino nuclear não pode ser tomada apenas como resposta à movimentação dos países vizinhos. É preciso, antes, de acordo com ele, observar as políticas de defesa nacional:

- É preciso pensar nesses projetos de forma sistêmica, até porque, atualmente, nem temos massa crítica para levá-los adiante.

O projeto para construção do submarino nuclear vem sendo desenvolvido desde 1979. O orçamento da União para 2007 reduziu em 25% a verba do programa de pesquisas nucleares da Marinha no Centro Experimental Aramar, em Iperó (SP). Os R$21,6 milhões previstos para este ano seriam aplicados na instalação e testes do protótipo de um reator nuclear.

Para Fuccille, o submarino seria um equipamento importante para um país com oito mil quilômetros de litoral, 15 mil quilômetros de fronteira seca e um enorme espaço aéreo. E é por conta dessas dimensões continentais que os governos já deveriam ter pensado antes em reforças as Forças Armadas:

- Não podemos continuar com caças dos anos 60. Além disso, dos 750 aviões da FAB, metade está no chão.

Ainda para Fuccille, investinas Forças Armadas são importantes também à medida em que o país tenta ocupar assento no Conselho de Segurança da ONU:

- Se o Brasil ocupar essa cadeira, não poderá mais ficar neutro. E o terrorismo pode ser uma ameaça a partir do Conselho de Segurança. O país passa a ser fiador da ordem nacional, e isso traz bônus e ônus.

A AVALIAÇÃO DE LÍDERES DA AMÉRICA LATINA na página 37