Título: Renan: renúncia como trunfo contra cassação
Autor: Camarotti, Gerson
Fonte: O Globo, 17/11/2007, O País, p. 12

Presidente do Senado admite abrir mão do cargo, antes de acabar sua licença, para de novo escapar em plenário.

BRASÍLIA. O presidente licenciado do Senado, Renan Calheiros (PMDB-AL), vai usar a renúncia como um trunfo para garantir sua absolvição. Segundo aliados, ele está disposto a renunciar antes de acabar o prazo de sua licença, dia 26, caso isso resulte em mais votos da oposição para escapar da cassação em plenário, na próxima quinta-feira. Se não tiver essa segurança, Renan apostará no apoio do Planalto e de seus aliados, deixando a renúncia para depois da aprovação da CPMF.

De um lado, Renan está pressionado por governistas que preferem que a sucessão no Senado só ocorra depois da votação da CPMF, para não tumultuar o ambiente político. Embora os líderes de oposição neguem qualquer acordo, já chegaram a Renan recados de que, se ele renunciar à presidência, crescerão suas chances de ser absolvido no julgamento previsto para quinta-feira.

Nesta data, será votado o processo em que ele é acusado de usar laranjas para comprar duas rádios e um jornal em Alagoas. Renan acha esse o processo mais difícil e quer tentar repetir o placar da primeira absolvição, em setembro, quando escapou com 40 votos favoráveis, 6 abstenções e 35 votos contrários.

- O Planalto e o Renan fizeram um pacto: de um lado, Renan garante os votos para a CPMF e, do outro, o Planalto garante a absolvição dele no plenário - disse o líder do DEM, José Agripino Maia (RN).

Renan acredita em entendimento com setores da oposição, a partir de um gesto mais concreto: renunciaria à presidência do Senado até o dia 26, quando termina sua licença do cargo, em troca de votos de senadores do PSDB e do DEM. Interlocutores seus sondaram caciques do PSDB e do DEM, mas não houve entendimento formal.

No governo, a ordem é ajudar Renan a escapar

A amigos, Renan tem dito que fará o que for melhor para ele, do ponto de vista numérico. Ou seja, quem garante mais votos para uma nova absolvição.

No núcleo do governo, a ordem é ajudar Renan a se livrar da cassação em qualquer circunstância - ainda que tenha que enfrentar o processo sucessório agora. O Planalto já trabalha pela absolvição, contando principalmente com votos do PT. O presidente interino do Senado, Tião Viana (PT-AC), foi encarregado de encaminhar as negociações para ajudar Renan.

- O Renan não criará problema: fará o que for melhor para a sua absolvição - diz o senador Edison Lobão (PMDB-MA), aliado de Renan.

Ontem, Renan avisou a amigos que irá finalizar nesse fim de semana um memorial de 12 páginas com a defesa do processo aprovado pelo Conselho de Ética, na última quarta-feira e encaminhá-lo aos 80 senadores. Nessas conversas, ele começa admitir que considera perdida a presidência do Senado. E estaria, segundo interlocutores, demonstrando certo alívio com a decisão de renunciar ao cargo.

- Antes, ser presidente do Senado era um dogma para mim. Hoje, virou um sacrifício - disse Renan para um amigo, indicando que gostaria de tirar férias.

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