Título: Ações da Telebrás saltam 575% com declaração de ministro Hélio Costa
Autor: Rosa, Bruno
Fonte: O Globo, 17/11/2007, Economia, p. 30

Volume diário de negociação de papéis também dispara de 9 para 3 mil operações.

As ações da Telebrás, holding do antigo monopólio estatal da telefonia, surgiram das cinzas e dispararam mais de 570% na Bolsa de Valores de São Paulo (Bovespa) em apenas dois dias. De uma média diária de nove negócios até a última terça-feira - em dias movimentados chegou a registrar 25 operações -, os papéis preferenciais (PN, sem direito a voto) tiveram nada menos do que 883 negócios na quarta-feira e 3.001 ontem. A mudança ocorreu depois de o ministro das Comunicações, Hélio Costa, afirmar, na última terça-feira, que o governo federal pretende usar a empresa para implantar a banda larga (acesso em alta velocidade à internet) em grande parte do território nacional. Analistas criticaram a realização de anúncios ou declarações por parte do governo sobre empresas de capital aberto com o pregão em andamento e sem a divulgação de um fato relevante.

O valor das ações PN da estatal passou de R$0,04, no dia 13, para R$0,09, no dia seguinte às declarações do ministro. Ontem, os papéis fecharam a R$0,27 - uma alta de 575%. O volume financeiro movimentado passou de R$202,416 mil para R$12,974 milhões entre os dias 13 e 16.

Bolsa cai 0,03% e dólar sobe 0,75%, para R$1,747

Entre os papéis ordinários (ON, com direito a voto), o movimento foi semelhante. No dia 13, o valor era de R$0,08. No dia seguinte, os papéis fecharam a R$0,11. Ontem, as ações encerram o dia a R$0,35, uma alta de 337,5%. A quantidade de negócios saltou de duas operações para 877 negócios. De quarta-feira a sexta-feira, o volume movimentado passou de R$120 para R$1,957 milhão.

- É um completo absurdo o governo fazer declarações deste tipo com o mercado aberto. Essas coisas não deveriam acontecer, pois dão margem a movimentos especulativos - disse um executivo de uma das maiores corretoras do país.

Em reportagem publicada na "Folha de S.Paulo" na quarta-feira, Hélio Costa informou que o projeto de implantação da banda larga em 90% do território nacional em três anos custará entre R$2,5 bilhões e R$3 bilhões. O ministro afirmou na reportagem que a estatal - o setor foi privatizado em 1998, mas a empresa continua viva, como fornecedora de funcionários para a Agência Nacional de Telecomunicações (Anatel) - coordenaria a integração da redes de fibras óticas ociosas espalhadas por várias estatais. No próprio dia 14, Costa recuou e afirmou que o uso da Telebrás é "uma das sugestões".

Ontem, em um dia de volatilidade, a Bovespa fechou em leve queda de 0,03%, aos 64.609 pontos. Já o dólar encerrou em alta de 0,75%, a R$1,747. O risco-Brasil avançou 7,69%, para 210 pontos centesimais.

Nos Estados Unidos, após as fortes perdas de quinta-feira, os principais índices se recuperaram. O Nasdaq fechou em alta de 0,72%. Dow Jones e S&P subiram 0,50% e 0,52%, respectivamente. A crise do mercado imobiliário e seus reflexos sobre a economia americana dominaram ontem as bolsas de Europa e Ásia. Os mercados europeus fecharam em seu menor nível em dois meses, com o FTSE, de Londres, recuando 1,08%, o DAX, de Frankfurt, 0,71%, e o CAC, de Paris, 0,67%. O índice Nikkei, da bolsa de Tóquio, caiu 1,57%, enquanto Hong Kong despencou 3,95%.

Segundo analistas, o dia no Brasil começou ruim com a queda de 0,5% na produção industrial de outubro nos EUA. Em seguida, o banco Goldman Sachs divulgou que a crise de crédito nos EUA pode causar prejuízos de US$2 trilhões.

(*) Com agências internacionais