Título: Queda do dólar causa polêmica em cúpula da Opep
Autor: Nogueira, Danielle
Fonte: O Globo, 17/11/2007, Economia, p. 34

Sem saber que estava na TV, ministro saudita desaconselha incluir tema em declaração final, porque a moeda "poderia entrar em colapso"

RIAD. Ministros de Energia e Relações Exteriores dos 13 países reunidos ontem em Riad para discutir a declaração final da 3ª Cúpula de Chefes de Estado da Organização dos Países Exportadores de Petróleo (Opep) divergiram sobre o documento. Respondendo à proposta do ministro de Energia da Venezuela, Rafael Ramírez, de incluir no texto a necessidade de se discutir a depreciação do dólar, o ministro de Relações Exteriores da Arábia Saudita, príncipe Saud Al-Faisal, afirmou que "o assunto poderia ser debatido verbalmente", mas não seria aconselhável incorporá-lo na declaração, pois "jornalistas poderiam ler, e o dólar poderia entrar em colapso". O que Al-Faisal não sabia é que as declarações eram transmitidas ao vivo, em uma tela de TV na sala de imprensa, por erro da organização do evento.

O episódio remete à transmissão acidental de uma declaração do embaixador Rubens Ricupero, então ministro da Fazenda, em 1995, enquanto se preparava para entrar ao vivo no "Jornal da Globo": "O que é bom a gente divulga, o que é ruim a gente esconde", disse. Ricupero foi demitido.

Alguns minutos depois do debate sobre o dólar, um segurança da Opep entrou na sala de imprensa e desconectou a TV, em meio a pedidos de jornalistas para que não o fizesse. A proposta venezuelana foi a que mais causou divergência durante o tempo em que o debate ficou no ar, por 15 a 20 minutos. Ao fim da sessão, não foi incluída no rascunho do comunicado final, de acordo com Ramírez. Ele não descartou, no entanto, que os chefes de Estado voltem atrás. A declaração final será divulgada no domingo.

De acordo com o venezuelano, a intenção era enfatizar a necessidade de se discutir mecanismos financeiros para conter a desvalorização do dólar, uma vez que o petróleo é cotado na moeda americana, e os consumidores, especialmente os países pobres, têm sido afetados pela escalada de preços.

- Quando manifestamos preocupação com os consumidores, não estamos falando de Europa ou Estados Unidos, estamos falando de países muito pobres, que sofrem o impacto dos preços - disse Ramírez, que também propôs um fundo de desenvolvimento para ajudar os menos favorecidos.

Equador passa a ser o 13º membro da Opep e abre espaço para o Brasil

Irã e Nigéria concordaram com a proposta venezuelana, derrotada pelo anfitrião da cúpula, que desde o início vem afirmando que o preço do petróleo não seria discutido. Ontem, o barril fechou em alta de 1,79%, para US$95,10 em Nova York. O Brent subiu US$1,39, cotado a US$91,62.

Já a proposta de criação de um fundo para o desenvolvimento de tecnologias, que visa a reduzir o impacto do uso de combustíveis fósseis, obteve consenso.

O Equador oficializa este fim de semana seu retorno à Opep, da qual havia se retirado em 1992. O anúncio será feito pelo presidente Rafael Correa. Será o 13º membro da organização, e o segundo latino-americano, ao lado da Venezuela, abrindo caminho para um possível ingresso do Brasil. Em janeiro, a Opep aprovou a entrada de Angola. O objetivo do governo equatoriano é ampliar a participação da América Latina.

- O retorno do Equador fortalecerá a Opep, ao contribuir com um ponto de vista latino-americano. Queremos participar ativamente das decisões políticas - disse ao GLOBO o ministro de Minas e Petróleo, Galo Chiriboga Zambrano.

O Equador produz 500 mil barris diários de petróleo, menos que os 9 milhões da Arábia Saudita ou o 1,9 milhão do Brasil. Como tem a economia pouco dinâmica e carece de infra-estrutura de refino, a maior parte é exportada, o que justifica o ingresso na Opep.

A possibilidade de uma admissão do Brasil foi comemorada por Ramírez:

- Vemos com simpatia a possível incorporação do Brasil na Opep.

(*) A repórter viajou a convite do governo da Arábia Saudita