Título: Democracia em queda
Autor: Galhardo, Ricardo
Fonte: O Globo, 17/11/2007, O Mundo, p. 37

AMÉRICA LATINA EM DEBATE

Pesquisa indica perda de apreço por voto. Lula é o mais bem avaliado pelo segundo ano.

Onível de apoio à democracia na América Latina caiu. Segundo pesquisa do instituto Latinobarômetro, com sede no Chile, feita em 18 países da região, o apoio à democracia caiu de 58% em 2006 para 54% em 2007. A satisfação com o regime democrático também diminuiu de 38% para 36%. O presidente Luiz Inácio Lula da Silva é o mais bem avaliado entre os presidentes dos países pesquisados pela segunda vez consecutiva, com nota 5,7 numa escala da 0 a 10. O último da lista é o líder cubano Fidel Castro, com nota 4,3. O venezuelano Hugo Chávez e o americano George W. Bush ficaram empatados na penúltima colocação, com 4,5.

O recuo no apoio à democracia surpreendeu os responsáveis pelo levantamento.

- Pela primeira vez em muito tempo todos os países registram crescimento econômico quatro anos seguidos. Além disso, nos últimos 14 meses tivemos 11 eleições na região - disse a diretora do Latinobarômetro, Marta Lagos. - Quanto maiores os avanços, maiores as expectativas. O que era suficiente ontem não é mais hoje.

Outro resultado que deixou os responsáveis pela pesquisa perplexos se refere aos únicos cinco países em que a satisfação com a democracia aumentou: Equador, Nicarágua, Bolívia, Venezuela e El Salvador.

- Uma coisa é certa, a ciência social terá que criar novos métodos para analisar a América Latina. Os parâmetros criados na Europa não dão conta de explicar os fenômenos nos latino-americanos - disse Marta.

Segundo a pesquisa, que ouviu 20.212 pessoas em 18 países, embora o índice de pessoas que responderam sim à indagação "a democracia é preferível a qualquer outro regime?" tenha caído de 58% para 54%, o número dos que admitiram que "em algumas circunstâncias um governo autoritário é preferível" permaneceu estável, em 17%.

Apoio ao livre mercado diminui

No Brasil, o índice de apoio à democracia caiu de 46% para 43%, e o de satisfação, de 36% para 30%. O Paraguai é o que tem o menor nível de apoio à democracia, 33%. Na Argentina o índice é de 63% e na Venezuela, 67%.

Outro fato revelado pelo Latinobarômetro é a descrença da população na economia de mercado. Desde 2002, o índice dos que concordam com a frase "a economia de mercado é o único sistema para o desenvolvimento" caiu 16 pontos percentuais, de 63% para 47%. As exceções são Brasil e México, as maiores economias da região, onde o número de pessoas que confiam na economia de mercado é maior do que as que não confiam.

Pelo segundo ano seguido Lula encabeça a lista dos presidentes com melhor avaliação. Em segundo lugar está a chilena Michelle Bachelet e, em terceiro, o colombiano Alvaro Uribe. Fidel é o último, precedido de Chávez, Bush e do peruano Alan García, empatados em penúltimo lugar.

O Latinobarômetro contrata institutos de pesquisa locais nos 18 países pesquisados para o levantamento. No Brasil, o escolhido foi o Ibope. Em cada país são ouvidas pelo menos mil pessoas. A margem de erro da pesquisa é de três pontos percentuais.

O líder do PSDB no Senado, Arthur Virgílio (AM), considera preocupante o resultado da pesquisa. Para ele, os dois percentuais indicam o baixo interesse na região por regimes democráticos.

- Não importa se 46% ou 43% preferem a democracia. O simples fato de mais da metade da população não demonstrar apreço pela democracia é muito grave - disse Virgílio.

Para o senador, esses números são um terreno fértil para aventuras autoritárias, principalmente num momento de expansão de governo populistas.

COLABOROU: Jailton de Carvalho