Título: Jobim explora petróleo
Autor: Menezes, Maiá
Fonte: O Globo, 16/11/2007, O País, p. 3

SEGURANÇA NACIONAL

Ministro cita descoberta de reserva para justificar necessidade de reaparelhar Forças

Opetróleo se tornou recurso para o ministro da Defesa, Nelson Jobim, incrementar o discurso em prol do aparelhamento das Forças Armadas. De olho na descoberta da reserva gigante de petróleo e gás na Bacia de Santos, Jobim disse ontem, para uma platéia de estudiosos e autoridades de Defesa de três continentes, que o Brasil precisa, mais do que nunca, ter condições de defender seu território, até de ataques terroristas. O discurso foi feita na palestra de abertura IV Conferência do Forte de Copacabana, no Rio. Na semana passada, a Petrobras anunciou a descoberta de reservas de 5 bilhões a 8 bilhões de barris de petróleo e gás natural no campo de Tupi - apontada como a maior já feita no Brasil.

- Evidentemente, no momento em que você tem uma grande riqueza nacional que se encontra na área do Atlântico, temos que ter condição de protegê-la. Não da invasão de qualquer país apenas. Mas de ações que possam vir da área do terror. É preciso que se tenha claramente a proteção. E para isso nós precisamos ter o navio de propulsão nuclear. Não pensem que vamos conseguir fazer isso exclusivamente com navios de superfície. A energia nuclear não é para nada de bomba atômica, isso é bobagem - disse o ministro, depois do discurso, em entrevista coletiva ao lado do ministro da Defesa de Portugal, Nuno Severiano Teixeira, presidente do Conselho de Ministros da Defesa da União Européia.

Jobim diz que havia "lógica primitiva"

Em um discurso afinado com o colega português, Jobim afirmou que existia uma "lógica primitiva" que levava à conclusão de que o fortalecimento militar de um país o tornaria imediatamente intervencionista. Para o ministro, o aparelhamento é a condição primeira para o Brasil assumir o protagonismo político na América do Sul.

- Quem não tem Forças Armadas equipadas não tem condição de ser protagonista na produção da estabilidade e da paz mundial. Não se constrói a paz exclusivamente fazendo recursos retóricos acadêmicos ou sentando na rua. Isso é importante para a manifestação política, mas não assegura a efetiva construção de uma paz internacional - disse Jobim.

O ministro anunciou ainda que começa pelo Chile, no próximo dia 3, uma série de viagens pela América do Sul, para encontros com ministros da Defesa do continente. O secretário de Planejamento de Longo Prazo, Mangabeira Unger, segundo Jobim, está em Paris, depois de visitas à Índia e a Moscou, para discutir estratégias de Defesa para o Brasil. Em janeiro, Mangabeira e Jobim embarcam para os Estados Unidos, para encontros no Ministério da Defesa americano.

Aumento para os militares na pauta

Jobim, que terá um encontro na próxima semana com o presidente Luiz Inácio Lula da Silva para tratar do aumento salarial para os militares, afirmou que quer encerrar a discussão até o fim do ano. Ele ressaltou, no entanto, que o acordo "é uma negociação política complicada". Depois do encontro com Lula, o ministro deverá se reunir com o ministro do Planejamento, Paulo Bernardo, para tratar do assunto. Depois de analisada, a proposta será enviado ao Congresso. O projeto em análise prevê reajustes parcelados que variam entre 27,62% (para os maiores vencimentos) e 34,99% (para os menores). Os reajustes deverão ser escalonados até setembro do ano que vem, o que causaria impacto de 45,89 bilhões no Orçamento de 2008 e de R$8,32 bilhões no de 2009. Os vencimentos líquidos nas Forças Armadas giram em torno de R$207 para os marinheiros-recrutas e R$8 mil para os generais do Exército, segundo o governo.