Título: Planalto orienta bancada do PT a livrar Renan da cassação
Autor: Camarotti, Gerson
Fonte: O Globo, 16/11/2007, O País, p. 9

CONFRONTOS NO CONGRESSO:"Ele será absolvido", diz petista.

Senador receberá tratamento de aliado no julgamento.

BRASÍLIA. A bancada do PT no Senado já está ciente da orientação do Palácio do Planalto para que os petistas ajudem o presidente licenciado do Senado, Renan Calheiros (PMDB-AL), a escapar da cassação no novo julgamento a que ele será submetido no plenário, na próxima semana. O PT não fechará questão em favor de Renan, mas deve garantir a maior parte dos 12 votos da bancada. Em recente conversa com o presidente em exercício do Senado, Tião Viana (PT-AC), o presidente Lula perguntou como estava a situação de Renan Calheiros e pediu que o petista tratasse bem o alagoano. Por fim, Lula sentenciou:

- O Renan é nosso aliado!

Na sessão prevista para o dia 22, Renan será julgado no processo em que é acusado de usar laranjas para comprar rádios e um jornal em Alagoas. Para Renan ser cassado, o relatório do senador Jefferson Peres (PDT-AM) precisa ser aprovado por, no mínimo, 41 votos.

O recado de Lula já foi assimilado pelos petistas. A líder do PT no Senado, Ideli Salvatti (SC), admite que Renan terá tratamento de aliado. Esclarece que o partido não fechará questão, repetindo a fórmula usada no primeiro processo de cassação, em setembro, quando o assunto foi discutido, mas o PT não teve posição oficial.

- O presidente Lula tem gratidão pelo apoio que recebeu dos senadores Renan e José Sarney (PMDB-AP), principalmente para assegurar a governabilidade no primeiro mandato. Ele reconhece esse apoio. O Renan é nosso aliado e terá votos no PT, como nos demais partidos. Mas o partido não vai tirar uma posição única, pois esse é um julgamento individual - ressaltou Ideli Salvatti.

A cúpula petista avalia que o presidente licenciado terá os votos necessários para salvar o mandato não só no PT mas em todos os partidos, inclusive na oposição.

- O argumento do PMDB é de que não há provas contra Renan para justificar a cassação. Com essa linha de defesa, a tendência é Renan repetir no plenário a primeira votação, quando foi absolvido (por 46 votos). O PT não vai votar completamente unido, mas vai ajudar nosso aliado. Renan terá votos no partido. Acho que ao final da votação, ele será absolvido - observou o senador Sibá Machado (PT-AC).

Em troca, Renan e aliados ajudam a aprovar CPMF

Esta semana, o próprio Tião fez um relato a Renan da conversa que teve com Lula. A cúpula do PMDB considera fundamental ter parte expressiva dos votos do PT. Havia o temor, entre os peemedebistas, de que o PT mudasse de posição e votasse contra Renan. Esse receio cresceu depois que o senador Aloizio Mercadante (PT-SP), que se absteve no julgamento anterior, passou a ter uma postura mais crítica em relação a Renan.

O próprio presidente licenciado sabe que não será possível ter os 12 votos petistas. Mas espera ter um número confortável no partido para escapar da cassação. Além de Mercadante, podem votar contra ele os senadores Eduardo Suplicy (PT) e Augusto Botelho (RO).

Lula deu sinal verde para que seus operadores políticos fechassem acordo com o PMDB para tentar salvar Renan na próxima semana. Em contrapartida, ele e seus aliados garantem os votos para a CPMF e adiam para o ano que vem a renúncia do cargo de presidente. O Planalto sabe das dificuldades que poderão ser impostas à aprovação da CPMF se for deflagrado o processo sucessório no Senado.

Na avaliação otimista dos governistas, haverá tempo suficiente para salvar Renan e votar a CPMF até o fim do ano, com o menor desgaste possível. Mas a oposição, e até aliados, consideram que o acordo entre o Planalto e o PMDB é um complicador a mais para a CPMF.

- Pode ser até que haja alguma turbulência depois da votação do processo de Renan. Mas vai ser menor, num período em que o governo está mais fortalecido com a vitória na Comissão de Constituição e Justiça pela prorrogação da CPMF. Com isso, o governo ganha tempo para equacionar o último round. Vamos ter prazo para pacificar o Senado para a votação final da CPMF - avaliou Ideli Salvatti.

No Palácio do Planalto e no PT, a percepção é de que Renan vai escapar novamente da cassação. A expectativa é de que o placar da primeira votação, em que ele teve 35 votos contrários, ou seja 6 a menos que o necessário para a perda do mandato, seja repetido.