Título: Petrobras com mais cacife
Autor: Nogueira, Danielle
Fonte: O Globo, 16/11/2007, Economia, p. 19

Descoberta melhora condições de negociação com a Bolívia.

BRASÍLIA. Ao contrário do que ocorreu nos meses que sucederam a nacionalização das reservas de petróleo e gás na Bolívia, decretada em 1º de maio de 2006, a Petrobras está agora numa posição bem mais confortável para negociar investimentos com o país vizinho. A razão é a descoberta de reservas gigantescas de petróleo e gás em águas profundas brasileiras, abaixo de uma camada de sal. O prazo para o início da exploração dessas reservas deverá ser equivalente ao previsto para a conclusão das obras de duplicação do gasoduto Brasil-Bolívia: de cinco a seis anos.

Fontes do governo afirmam, porém, que a questão não é tão simples. Paralelamente ao aspecto econômico, existe a urgência de se promover a integração energética na América do Sul. Ao assinar qualquer ato indicando novos investimentos da estatal brasileira na Bolívia, no encontro que terá com o presidente boliviano, Evo Morales, no dia 12, o presidente Luiz Inácio Lula da Silva também levará o fato de que, sem investimentos novos e diante de promessas não cumpridas do líder venezuelano Hugo Chávez, a Bolívia requer atenção especial.

O país amarga o enfraquecimento de sua capacidade de fornecimento de gás natural para Brasil e Argentina. Isso deixa os bolivianos potencialmente mais pobres - o que pode acentuar ainda mais a crise política de seu governo.

Este espírito integracionista, porém, não facilitará as negociações para os bolivianos. Antes de falar em números, a Petrobras exigirá a garantia de que não haverá mudanças de regras, como ocorreu com a nacionalização das reservas. Por isso, dificilmente os contratos a serem assinados por Lula e Morales terão investimentos já estipulados para aumentar a capacidade produtiva da Bolívia.

O Brasil importa hoje cerca de 27 milhões de metros cúbicos por dia, quando a capacidade diária do gasoduto é de 30 milhões. Ou seja, especula-se que a Bolívia não tem mesmo mais condições de mandar o produto em quantidade suficiente. Conclusões preliminares estimam que os investimentos da Petrobras na Bolívia vão prever um aumento na oferta de gás para 34 milhões de metros cúbicos por dia. A demanda contratual do gás boliviano por Brasil e Argentina é de 40 milhões de metros cúbicos por dia.