Título: Opep ignora mercado
Autor: Nogueira, Danielle
Fonte: O Globo, 16/11/2007, Economia, p. 19

Países exportadores de petróleo não aumentarão produção, apesar da disparada de preços.

Apesar dos sucessivos recordes de preço do combustível, a Organização dos Países Exportadores de Petróleo (Opep) resiste em aumentar sua produção. Reunidos em Riad para a 3ª Cúpula de Chefes de Estado da Opep, ministros de energia das nações que integram o grupo - responsável por mais de 40% da produção mundial do insumo - afirmaram ser "pouco provável" uma nova elevação de cotas nos próximos meses. No último dia 1º de novembro, a entidade já acrescentara 500 mil barris por dia aos cerca dos 30 milhões de barris diários que produz.

Em seu relatório mensal divulgado ontem, a Opep revisou para baixo, em 100 mil barris diários, sua previsão sobre o crescimento da demanda mundial de petróleo para 2007. Também foi reduzida, em 30 mil barris diários, a estimativa de aumento do consumo em 2008. O cartel previu demanda 1,42% maior este ano em relação a 2006, para 85,70 milhões de barris diários. No próximo ano, a alta será de 1,53%, alcançando 87 milhões de barris por dia. Há um mês, previsão era de 1,54% e 1,56% para 2007 e 2008, respectivamente.

Ontem, ao presidir uma sessão do simpósio que antecede a cúpula, o ministro de Minas e Energia da Argélia, Chakib Khelil, atribuiu os elevados preços do petróleo a especulações e não a um suposto desequilíbrio entre oferta e demanda:

- Não há desequilíbrio entre oferta e demanda. Um novo aumento da produção teria apenas efeito psicológico sobre o mercado. É pouco provável que aconteça.

Mudanças na política de cotas não estão na pauta da cúpula deste fim de semana. O assunto voltará a ser debatido mês que vem em Dubai, nos Emirados Árabes. Para a Opep, a alta dos preços resulta da crise de crédito americana. Investidores teriam migrado dos fundos de investimentos lastreados em hipotecas para o mercado de commodities. Como os contratos de fornecimento futuro do petróleo são negociados em bolsa, houve um aumento artificial, refletido apenas nas cotações de mercado, da demanda.

Isso também explica a revisão para baixo do aumento do consumo. No relatório divulgado ontem, a Opep afirma que "o consumidor americano está enfrentando queda de preços dos imóveis, restrições de crédito e custo alto da energia."

É consenso na Opep, porém, que a demanda por petróleo vai aumentar nos próximos anos. Segundo o chefe do departamento de estudos de energia da entidade, Mohammed Hamel, o consumo mundial deverá subir de 83 milhões de barris em 2005 para 118 milhões em 2030. Para atender a demanda, serão necessários US$500 bilhões em investimentos. Os recursos garantiriam um acréscimo de nove milhões de barris diários à capacidade de produção dos países do grupo.

Os desafios para investir são três, segundo autoridades e especialistas reunidos em Riad. O primeiro é a incerteza em relação ao preço.

- Deve ser um preço que remunere os investimentos, porque o custo de produção está alto, mas que não comprometa a demanda. Não sabemos qual patamar seria sustentável - disse Robert Mabro, do Oxford Institute for Energy Studies.

O segundo desafio já vem sendo enfrentado pelo Brasil: a carência de mão-de-obra especializada. O ministro de Minas e Petróleo do Equador, Galo Chiriboga Zambrano, afirmou que os países da Opep podem contribuir fomentando politicas de formação de profissionais qualificados. Na reunião deste fim de semana, o Equador oficializa seu reingresso na Opep, da qual se retirou em 1992.

O terceiro desafio é o desenvolvimento de tecnologias que tornem o petróleo um combustível amigável ao meio ambiente. O secretário-executivo da Convenção para Mudança Climática da ONU, Yvo Boer, conclamou os países da Opep a se engajarem na causa ambiental afirmando que "a luta contra a mudança climática não é uma luta contra o petróleo, e sim contra as emissões de CO2".

Para Chávez, cartel deve ajudar pobres

Sobre a alta dos preços, o ministro de Relações Exteriores da Venezuela, Nicolás Maduro, disse ontem em Pequim que o presidente venezuelano Hugo Chávez pedirá à Opep um plano de ajuda aos países pobres. O anúncio, que deverá ser feito na reunião em Riad, foi inspirado no Petrocaribe, acordo lançado em 2005. O programa oferece combustível a nações do Caribe com financiamentos flexíveis e a possibilidade de pagamento em produtos locais, como bananas e noz moscada.

Ontem, os preços do petróleo caíram depois que o governo americano informou que houve um inesperado aumento no estoque do produto no país. Em Nova York, as cotações do barril do tipo leve fecharam em US$93,43, com queda de 0,7%. Em Londres, o preço do brent fechou a US$90,85, num recuo de 0,6%.

(*) Com agências internacionais. A repórter viajou a convite do governo da Arábia Saudita