Título: Cepal: número de pobres na América Latina é o menor dos últimos 17 anos
Autor: Beck, Martha
Fonte: O Globo, 16/11/2007, Economia, p. 20

Em 2006, região tirou 15 milhões da pobreza e 10 milhões da indigência.

BRASÍLIA.O crescimento econômico da América Latina permitiu que 15 milhões de pessoas saíssem da pobreza e 10 milhões deixassem de ser indigentes na região em 2006, segundo levantamento da Comissão Econômica para América Latina e Caribe (Cepal). O "Panorama Social da América Latina" estima que a região deve encerrar 2007 com uma população pobre de 190 milhões de pessoas, o número mais baixo dos últimos 17 anos.

Brasil, Argentina e Venezuela estão entre os países que registraram maiores avanços. Segundo a Cepal, no caso brasileiro, não apenas o crescimento, mas programas de transferência de renda, como o Bolsa Família, foram determinantes. O país reduziu em 4,2 pontos percentuais tanto a pobreza quanto a indigência entre 2001 e 2006.

- Para a redução da pobreza é preciso haver mais emprego, mais renda e mais transferência de renda do governo para famílias pobres. Isso foi importante no Brasil e aí está o efeito no Bolsa Família - afirmou ao GLOBO o diretor da divisão de desenvolvimento social da Cepal, Andras Uthoff.

Cepal: programa assistencial não pode ser permanente

O documento afirma que o crescimento econômico da América Latina permitiu que os países aumentassem a oferta de emprego formal e a renda das famílias mais pobres. Segundo Uthoff, a redução da taxa de natalidade também teve efeito na diminuição da pobreza. As famílias têm hoje mais pessoas em idade de ingressar no mercado de trabalho.

Mesmo assim, a Cepal destaca que os países precisam melhorar seus investimentos em gastos sociais, que continuam a ser insuficientes para atender a população mais pobre. Embora os gastos públicos em políticas sociais tenham aumentado quase 10% entre os períodos 2002-2003 e 2004-2005, e chegado a US$660 per capita na região, a América Latina ainda carece de políticas contra-cíclicas, ou seja, medidas compensatórias em momentos de desaquecimento da economia.

"Como resultado das políticas orçamentárias dos governos, o gasto social segue uma tendência altamente pró-cíclica, aumentando quando se aumenta o PIB (Produto Interno Bruto, conjunto de todas as riquezas da economia) e diminuindo quando ele se retrai. Este comportamento reflete não apenas a existência de uma política macroeconômica equivocada, mas também que não permite a aplicação de uma política de compensação de riscos sociais frente a situações de contração da atividade econômica", alerta o documento da Cepal.

- A idéia é que, quando há período de crescimento, se guarde mais para períodos de crise. Isso é contra-cíclico. Apenas Chile aplica bem essa política - explicou o diretor da Cepal.

Ele também destacou que está na hora de os países da América Latina discutirem a forma de utilização de programas assistenciais. Isso porque eles devem ser transitórios, e não um instrumento para que o Estado compense eternamente a população mais pobre pela falta de chances no mercado formal.

- Programa assistenciais, que eram transitórios, estão passando a ser permanentes, pois estão durando mais do que se esperava. É preciso pensar em um contrato social para ver como se priorizam os gastos para tirar as pessoas da pobreza e, ao mesmo tempo, ter crescimento econômico - disse Uthoff.

Para o diretor, um caminho seria a realização de investimentos mais fortes dos países em áreas como educação e capacitação profissional. E, ainda, o desenvolvimento da capacidade produtiva de micro e pequenas empresas:

- É preciso criar ativos para que a pessoa se insira no processo de desenvolvimento econômico.