Título: Gasto da União com veículos oficiais é igual ao de manutenção de rodovias
Autor: Casado, José; Franco, Bernardo Mello
Fonte: O Globo, 20/11/2007, O País, p. 4

Governo gasta R$801 milhões por ano com compra e aluguel de carros.

RIO e BRASÍLIA. Os ritos do Judiciário são lentos, mas os ministros do Superior Tribunal de Justiça (STJ) têm pressa. Menos de três anos depois de renovar a frota oficial à disposição de seus 33 integrantes - num pacote que incluiu 37 carros e custou R$5,4 milhões aos cofres públicos -, a Corte prepara uma nova compra de dez veículos de luxo, a R$145 mil cada. O pregão de tomada de preços, realizado no mês passado, só atraiu uma montadora: a General Motors. E o modelo escolhido foi, mais uma vez, o Ômega CD australiano - sofisticado sedã transformado em símbolo de poder na capital da República.

Nas ruas de Brasília, os sinais limitam a velocidade máxima a 80 km/h, mas o ronco de motores possantes une os integrantes da cúpula da Justiça Federal, que também circulam em veículos como o Honda Civic, o Toyota Corolla e o Renault Mégane. O luxo dos carros oficiais - com motorista, pneus, óleo e combustível pagos com dinheiro público - é a face mais visível das regalias disponíveis para cada um dos 93 ministros dos quatro tribunais superiores e do Supremo Tribunal Federal (STF).

A União gasta R$801,8 milhões por ano na compra, no aluguel e na manutenção de veículos. É uma quantia praticamente igual ao que o governo federal pagou, até o último dia 2, por serviços de manutenção da malha rodoviária em todo o país. O Judiciário contribui com despesas de R$29,3 milhões por ano.

Além disso, o Tesouro Nacional custeia viagens domésticas e internacionais de servidores. Somente em passagens foram R$555,7 milhões, no ano passado, dos quais R$19,4 milhões pela conta do Judiciário.

Lençóis, crucifixos, medalhas e gerenciamento de estresse

Os dados do Tesouro Nacional sobre a lista de compras da burocracia judiciária mostram itens exóticos para o cotidiano dos tribunais.

Há um pouco de tudo, por exemplo, na relação de dispêndios do Tribunal Superior do Trabalho (TST). A corte compra desde lençóis azuis e verdes (35) a medalhas (140); de crucifixos de parede (10) a agulhas de acupuntura (13 mil). Combinadas com um aparelho de aplicação de pequenos choques elétricos, o conjunto de instrumentos de acupuntura saiu por R$3.439,00.

Massagens também pagas com dinheiro público

Cuidados terapêuticos ou estéticos, financiados pelo dinheiro dos impostos, viraram rotina em prédios públicos. Gasta-se com "ginástica laboral", massagens incluídas, na Presidência da República, na Procuradoria Geral da República e, também, no Superior Tribunal de Justiça, que pagou R$4,1 mil por uma poltrona giratória para uma ministra e mais R$849,00 por uma cadeira de maquiagem.

Na agenda de atividades do STJ está previsto que amanhã a psicóloga Ana Magnólia Mendes subirá a rampa da Corte para dar uma aula aos chefes administrativos da Secretaria Judiciária. É parte de um curso de "gerenciamento de estresse" - contratado ao custo de R$37.500.