Título: PSDB, agora, defende privatizações da era FH
Autor: Lima, Maria
Fonte: O Globo, 20/11/2007, O País, p. 8

"Privatizamos e foi bom para o Brasil", dizem tucanos, para quem a economia vai bem pelos feitos do governo passado.

BRASÍLIA. Passados quase 20 anos da criação do PSDB, o partido fecha, nesta sexta-feira, no III Congresso e Convenção nacionais, o novo programa de governo que pretende pôr fim à crise de identidade que atravessa na oposição, e com o qual quer enfrentar o lulismo nas urnas em 2010. O documento-base do novo programa foi batizado de "Mais Estado e mais mercado". No texto-síntese, divulgado ontem no site do PSDB, há um reconhecimento de que a economia vai bem, mas graças às políticas implementadas pelo PSDB, e uma defesa tardia das privatizações do governo Fernando Henrique, alvos da maior investida da campanha pela reeleição do presidente Lula.

Em 2006, a campanha do tucano Geraldo Alckmin foi torpedeada com boatos de novas privatizações - inclusive da Petrobras - em seu eventual governo, e o PSDB não reagiu. Mais que isso, evitaram a defesa das privatizações e das conseqüências do programa na telefonia, na siderurgia, nas rodovias. O próprio Fernando Henrique demonstrou, em entrevista recente à revista "Piauí", que privatização sempre foi um tema delicado para o governo tucano: "No final da década de 80, não estávamos mais enfrentando teorias, mas realidade. Olhamos o que existia e estava tudo aos pedaços. Estávamos falidos. Fomos forçados a privatizar, não havia outro jeito. Mesmo assim, não privatizei tudo", declarou Fernando Henrique.

No documento divulgado ontem, a defesa da privatização é clara: "Privatizamos e foi bom para o Brasil". Veja os principais tópicos do documento:

PRIVATIZAÇÃO: "Criamos agências reguladoras. E privatizamos, o que foi bom para o Brasil. Com as privatizações das telecomunicações, o Brasil pôde ingressar com o pé direito na era da internet e do telefone celular. Empresas como a Embraer e a Vale do Rio Doce são competidoras mundiais de sucesso. As siderúrgicas expandem-se pelo mundo afora e deixaram de ser um encargo para o Tesouro. Livramos as empresas da infiltração dos partidos políticos. No governo do PSDB a Petrobras tornou-se uma corporação moderna e a produção brasileira de petróleo deu um salto rumo à auto-suficiência, que este governo comemorou como se fosse conquista dele".

EDUCAÇÃO: "Temos que completar a revolução na educação, que apenas iniciamos. A escola será um dos motores da agenda de desenvolvimento nacional em um governo do PSDB, como foi nos governos FHC e tem sido nos governos estaduais sob o comando do partido."

SAÚDE: "Com clareza estratégica e competência gerencial é possível aumentar a produtividade dos recursos investidos. (...) A redução da mortalidade materna é imperativa. (...) É necessário promover a regionalização solidária e cooperativa (...) É preciso desenhar redes integradas tendo como centro de gravidade a atenção primária (equipe de saúde da família e unidades básicas)."

REDE SOCIAL/BOLSAS: "As políticas sociais brasileiras, no atual momento, são pouco ousadas e têm baixa competência gestora. (...) O primeiro ponto é que toda e qualquer ação de combate à pobreza e de política social tem que ter avaliação, tem que saber onde está e aonde quer chegar(...). É necessário um programa que atenda aos jovens. Ele tem que freqüentar aulas. (...) O Bolsa Família nada mais é do que a junção dos programas da Rede de Proteção Social criados no governo do PSDB, como o Bolsa Escola e o Bolsa Alimentação."

REFORMA POLÍTICA: "O PSDB assume de forma clara a bandeira do voto distrital como núcleo da reforma eleitoral e política (...) Fortalecer a posição dos parlamentares é o primeiro passo para que se possa reverter a absoluta predominância do Executivo em relação ao Legislativo. A fidelidade partidária será reforçada em conseqüência da mudança do sistema eleitoral."

CORRUPÇÃO: "Quando os amigos do presidente da República são flagrados em ilicitudes e o presidente diz "todos fazem", isso é uma mensagem para a sociedade: vale tudo, todos podem fazer de tudo."

CRESCIMENTO ECONÔMICO: "A economia vai relativamente bem e o governo vai mal. (..) O Brasil está ficando menor no mundo, menor na América Latina, e muito menor em relação aos demais países emergentes. Desde 2002 o Brasil cresceu 22%, a América Latina, 26%, o mundo 31%, e os emergentes, 50%. (...) O governo do PSDB estabilizou a economia e reformou o Estado, preparando-o para o círculo virtuoso estrutural de que hoje se beneficia."

REFORMA AGRÁRIA: "Não se pode mais prosseguir transferindo terras e gerando pressões sobre o gasto público, sem avaliação dos resultados, sem perspectiva de emancipação econômica dos assentamentos."

REFORMA FISCAL/GASTOS: "(...) é urgente impor à União o que a Lei de Responsabilidade prevê, mas nunca foi implementado: um limite para o endividamento do governo federal. É preciso também estabelecer um redutor para despesas de custeio da União e fixar uma regra para o aumento do salário mínimo."