Título: PSDB e DEM tentam adiar julgamento de Renan
Autor: Vasconcelos, Adriana; Jungblut, Cristiane
Fonte: O Globo, 20/11/2007, O País, p. 9

Objetivo é tumultuar votação da CPMF e evitar um "acordão" dos governistas para absolver o senador alagoano.

BRASÍLIA. O PSDB e o Democratas estão dispostos a adiar para a próxima semana o novo julgamento de senador Renan Calheiros (PMDB-AL). O objetivo dos dois partidos é tumultar a votação da emenda que prorroga a CPMF e tentar evitar que um "acordão" da base governista resulte na absolvição do senador alagoano. O líder da bancada tucana, Arthur Virgílio (AM), indicado para relatar o processo contra Renan na Comissão de Constituição e Justiça (CCJ), anunciou que não apresentará seu parecer amanhã.

"Não sou obrigado a cumprir calendário de ninguém"

Essa medida adiaria automaticamente a votação do pedido de cassação do mandato de Renan, previsto para ser apreciado quinta-feira, em sessão aberta com voto secreto. A cassação foi pedida pelo senador Jefferson Peres (PDT-AM) no processo sobre a denúncia de que ele usou laranjas para comprara rádios e jornal em Alagoas.

- Pelo regimento, tenho até 15 dias para apresentar meu parecer. Não quero prejudicar ninguém, mas não sou obrigado a cumprir o calendário de ninguém - disse Virgílio, que comunicou a decisão ao presidente da CCJ, Marco Maciel (DEM-PE), e ao presidente interino do Senado, Tião Viana (PT-AC).

O adiamento atrapalha o acordo costurado entre o governo e Renan, pelo qual o alagoano receberia a ajuda do PT para salvar o mandato e, em troca, não atrapalharia a votação da CPMF. Ao saber da disposição de Virgílio, Viana convocou reunião de líderes para hoje, às 11h. Se a maioria quiser, o processo pode ser avocado para o plenário sem passar pela CCJ.

Viana não escondeu sua preocupação com os reflexos na votação da CPMF.

- Isso é ruim para o governo e prejudica a negociações da CPMF. Se o julgamento não for na quinta-feira, vai se criar uma confusão, vai se criar uma intimidade entre o caso Renan e a CPMF - acrescentou o petista.

O líder de PMDB, Valdir Raupp (RO), demonstrou surpresa com a estratégia da oposição:

- Isso atrapalha tudo.

O líder do PSB no Senado, Renato Casagrande (ES), disse que o senador Arthur Virgílio deveria rever sua posição de adiar a entrega do relatório sobre o caso Renan. Para ele, essa manobra pode ser "um tiro no pé" da oposição, já que quanto mais o tempo passa, mais o governo ficaria refém de Renan para garantir a CPMF.

COLABOROU: Gerson Camarotti

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