Título: Lula promete enviar ao Congresso em 15 dias proposta de política industrial
Autor: Galhardo, Ricardo
Fonte: O Globo, 20/11/2007, Economia, p. 22

Governo deve anunciar ainda este mês novo projeto de reforma tributária.

BLUMENAU (SC). O presidente Luiz Inácio Lula da Silva anunciou ontem, na abertura do 25º Encontro Econômico Brasil-Alemanha, que em 15 dias o governo enviará ao Congresso uma proposta de política industrial. Sem dar detalhes, Lula acrescentou que, até 30 de novembro, pretende enviar um projeto de reforma tributária que, segundo ele, não é o ideal, mas o possível no momento. Além disso, ele anunciou que ainda hoje pretende lançar um pacote de investimentos em ciência e tecnologia que chega a R$28 bilhões.

- Nos próximos 15 dias estaremos apresentando ao país uma proposta de política industrial com forte conteúdo de inovação tecnológica, da mesma forma que até o dia 30 deste mês estaremos mandando ao Congresso outra proposta de política tributária, para ver se conseguimos ter, se não a carga tributária e a política tributária ideais, aquela que seja factível - disse Lula.

Paulo Bernardo acena com redução da carga

No momento em que o governo enfrenta resistências no Senado para aprovar a renovação da CPMF, o presidente disse que a proposta a ser apresentada contempla os interesses de governadores e prefeitos. Para evitar mais dificuldades, Lula convocou os demais mandatários a ajudarem a obter maioria no Congresso.

- Para que a reforma seja aprovada, é preciso que todos nós tenhamos uma atitude de cooperação - afirmou Lula.

O ministro do Planejamento, Paulo Bernardo, escalado para expor o Programa de Aceleração do Crescimento (PAC) aos cerca de 1.500 empresários presentes ao encontro - 250 deles alemães - evitou relacionar a reforma tributária à CPMF e admitiu que a proposta pode abrir caminho para a redução da carga tributária.

- A proposta não tem nada a ver com a CPMF. É a evolução natural da política tributária do governo. Ela simplifica o sistema tributário e, com isso, abre caminho para a redução da carga - disse Bernardo, que espera ver a renovação da CPMF aprovada pelo Senado antes da apresentação da proposta.

Lula aproveitou a presença do ministro da Economia alemão, Michael Glos, para propor uma parceria entre Brasil e Alemanha na área dos biocombustíveis. Segundo Lula, o etanol brasileiro é alvo de uma "disputa comercial que não é leal", devido às notícias de que plantadores de cana-de-açúcar estariam desmatando a floresta amazônica. O presidente disse que o governo está preparando um projeto de zoneamento agroecológico que evitará a expansão das plantações de cana para a Amazônia.

- Existe uma disputa comercial que não é leal e está se espalhando pelo mundo. Quero dizer aos empresários alemães que ninguém tem mais preocupação de preservar a Amazônia do que nós, brasileiros. Não vamos permitir a entrada do biocombustível na Amazônia - afirmou, lembrando que apenas 1% dos 440 milhões de hectares agricultáveis da Amazônia legal está ocupado pela cana.

Para presidente, não basta crescer 8% sem repartir

Ao rebater as críticas ao suposto desmatamento, Lula lembrou que as nações ricas são responsáveis pela emissão da maior parte do gás carbônico do planeta. Ele disse que vai propor em eventos internacionais que os países ricos financiem os pobres para evitar mais problemas ambientais. Segundo o presidente, a descoberta do campo de Tupi não vai mudar a prioridade das matrizes renováveis:

- Não é pelo fato de o Brasil ter descoberto uma grande reserva de petróleo que vamos abdicar da política de renovação da matriz energética. O etanol e o biodiesel continuarão sendo prioridade no meu governo.

Lula usou de ironia para criticar a postura americana nas negociações da Rodada de Doha. Segundo ele, os EUA concederam US$11 bilhões em subsídios agrícolas em 2006 e agora propõem valores entre US$13 bilhões e US$16 bilhões:

- Por tudo o que eu aprendi de matemática, não há diminuição de subsídio aí.

O presidente foi aplaudido pelo ministro alemão ao dizer que não basta um país ter altos índices de crescimento econômico sem distribuição de renda. Ele lembrou que o Brasil foi um dos países que mais cresceram no mundo até o início dos anos 80, mas isso não reduziu a desigualdade social.

- Nós aprendemos que não basta uma economia crescer 6%, 7%, 8% se não houver uma combinação entre o crescimento econômico e repartir corretamente as oportunidades, repartir o resultado deste crescimento. As dívidas que nós temos são conosco mesmo.