Título: Brasil ajudará Argentina a sair de crise energética
Autor: Oliveira, Eliane; Gois, Chico de
Fonte: O Globo, 20/11/2007, Economia, p. 23

Lula e Cristina Kirchner discutem integração, que inclui hidrelétrica e atuação maior da Petrobras no país vizinho.

BRASÍLIA. Preocupada com o estado crítico de seu país em termos de abastecimento de energia, a presidente eleita da Argentina, Cristina Kirchner, deixou ontem Brasília com uma agenda de integração energética com o Brasil praticamente montada. Em um encontro de cerca de duas horas com o presidente Luiz Inácio Lula da Silva, Cristina obteve dele o compromisso de que o projeto de construção da hidrelétrica binacional de Garabi, no Rio Uruguai, sairá do papel e terá uma definição do cronograma até fevereiro. Durante a reunião, ela foi informada ainda de que o governo brasileiro estudará a possibilidade de a Petrobras explorar petróleo em águas profundas em território argentino.

- O presidente Lula insistiu muito na necessidade de uma cooperação entre a Enarsa (estatal argentina) e a Petrobras, inclusive nessa questão de prospecção em águas profundas - relatou o assessor para assuntos internacionais da Presidência da República, Marco Aurélio Garcia.

O presidente reiterou a disposição da Petrobras de investir no aumento da produção de gás natural na Bolívia, o que beneficiará não só o Brasil, mas também a Argentina, que precisa do gás boliviano para manter o crescimento. Lula viaja a La Paz em 12 de dezembro, para assinar contratos de investimentos.

Outra notícia que Cristina dará aos argentinos, a menos de um mês de sua posse, é que as autoridades brasileiras têm interesse na cooperação energética com o país vizinho, inclusive nuclear.

- Vamos inventariar todas as iniciativas nucleares, tendo em conta o que a parte argentina apresentou. Gostaríamos de ter uma cooperação mais estreita na questão espacial e nuclear - disse Garcia.

Sobre a exploração de petróleo em águas profundas, ele disse que o tema contou com a simpatia de Lula. Segundo Garcia, há "fundadas suspeitas" da parte de geólogos de que existe um manancial petrolífero ao Sul da Argentina. Mas ele esclareceu que, por enquanto, tudo não passa de especulação.

Quanto a Garabi, o projeto vem sendo discutido há 35 anos e deve requerer investimentos de US$7 bilhões. A obra é tida como fundamental pelo governo argentino, assim como a retomada dos investimentos da Petrobras na Bolívia. A Argentina compra cerca de 7,7 milhões de metros cúbicos de gás natural boliviano por dia. Pelo contrato, a oferta teria de aumentar para 20 milhões diários em 2010.

- Os novos investimentos vão beneficiar, basicamente, a Bolívia e, indiretamente, serão um fator que dará mais tranqüilidade para o fornecimento de gás a todos os países que dela dependem. No caso atual, Brasil e Argentina - enfatizou Garcia.

Comércio em moeda local é adiado para 2008

Lula e Cristina decidiram criar uma comissão bilateral com a participação de ministros, para intensificar as relações entre os dois países. Acompanhada pelos integrantes do primeiro escalão de sua equipe, a presidente eleita anunciou que serão realizadas duas reuniões por ano. O primeiro encontro será em Buenos Aires, em 2008.

- Nada que estava sendo feito será paralisado, e sim reorganizado - disse ela, após as duas reuniões das quais participou, uma a sós com Lula e outra envolvendo ministros.

O comércio em moeda local entre os dois países - que passarão a usar real e peso, e não mais dólar - foi mais uma vez adiado. Segundo o assessor da Presidência, a medida entrará em vigor no início do próximo ano. A previsão anterior era para este semestre.