Título: Agora é caso de polícia
Autor: Pariz, Tiago; Luiz Ricardo
Fonte: Correio Braziliense, 18/04/2009, Política, p. 2

Câmara e Ministério Público Federal vão investigar comércio ilegal de passagens aéreas na Casa que prejudicou até o presidente do Supremo, Gilmar Mendes. Temer (E), ao lado de Gilmar Mendes: apuração rigorosa contra desvios

Iano Andrade/CB/D.A Press - 12/8/05 Anna Carolina: deputados e servidores suspeitos de participarem do esquema A farra das passagens aéreas entre deputados pode virar caso de polícia. A Câmara abriu uma sindicância administrativa para investigar a suspeita de que bilhetes comprados de uma agência de turismo por ministros do Supremo Tribunal Federal (STF) saíram da cota pessoal dos parlamentares. A sindicância formada por três servidores da Câmara indicados pelo diretor-geral, Sérgio Sampaio, tem prazo de 60 dias para concluir os trabalhos. O Ministério Público Federal em Brasília também deverá investigar, na área criminal, um suposto esquema de comércio ilegal de bilhetes.

As suspeitas de irregularidades surgiram após o presidente do STF, Gilmar Mendes, e o ministro Eros Grau, terem sido alvos de um possível esquema de emissão irregular de passagens aéreas. Em julho do ano passado, Mendes viajou com a mulher para Nova York. Em investigação conduzida pelo Ministério Público, essa passagem aparece saindo da cota pessoal do deputado Paulo Roberto (PTB-RS). O ministro, no entanto, apresentou documentos comprovando que pagou a viagem do próprio bolso.

O bilhete foi adquirido por Gilmar em um posto da agência Terra Turismo que funcionava dentro do STF. A compra foi intermediada por Suelma Dias dos Santos, então funcionária da agência que operou dentro do Supremo de dezembro de 2006 a janeiro de 2008. Mas o lançamento da compra no cartão de crédito do ministro aparece ManiaTour.

O diretor da Terra Turismo, Walter Nery Cardoso, diz desconhecer a ManiaTour e afirma que em uma aquisição de passagens feita por sua empresa o nome que aparece nas faturas dos cartões de crédito é ¿Terra Turismo e Viagens Ltda¿. ¿Nunca atendemos deputados, somos especializados em parcerias governamentais, com licitação¿, destaca Cardoso.

Ele informou que a empresa tinha um contrato de fornecimento com o Supremo e nesse posto de atendimento também eram vendidas passagens particulares para servidores. Cardoso lembra que Suelma era sua funcionária, mas foi dispensada por conta do fechamento da agência. ¿Nós sempre ficamos longe da Câmara porque sabemos que esse assunto é uma caixa de marimbondos¿, afirma o diretor.

A cota de Paulo Roberto também teria emitido passagens de Gilmar Mendes para Fortaleza, onde vive a família da mulher do ministro. A assessoria do STF também mostrou que esses trechos foram pagos por meio do programa de milhagens. Preocupado, Mendes conversou com o presidente da Câmara, Michel Temer (PMDB-SP), e com o procurador-geral da República, Antonio Fernando Souza. Além disso, foram encaminhados ofícios aos dois solicitando esclarecimentos sobre as passagens bilhetes emitidos por gabinetes de deputados em nome dele e do ministro Eros Grau. Mendes está em viagem oficial ao México.

O deputado Paulo Roberto informou, por meio de sua assessoria de imprensa, que já suspeitava de um secretário parlamentar responsável pelas passagens. Segundo ele, o servidor estaria se apropriando das sobras das cotas de passagens. A assessoria disse que o deputado só prestará novas informações na próxima semana. A cota do deputado Fernando de Fabinho (DEM-BA) teria emitido uma viagem de São Paulo ao Rio de Janeiro para Eros Grau. O ministro mostrou que o bilhete foi oferecido pela Universidade Estadual do Rio de Janeiro (Uerj).

Galisteu indignada

A apresentadora de TV Adriane Galisteu se manifestou ontem à noite, na estreia de seu programa na TV Bandeirantes, sobre a farra das passagens aéreas no Congresso. Anunciou que ela própria devolveria aos cofres públicos o valor das passagens emitidas no nome dela se o deputado Fabio Faria (PMN-RN) não tomasse a iniciativa. Galisteu disse que ¿ficou muito triste¿ com o episódio, mas acredita que contribuiu indiretamente para que o assunto fosse discutido publicamente pelas cúpulas da Câmara e do Senado.