Título: Para governo, problema é no interior
Autor:
Fonte: O Globo, 21/11/2007, O País, p. 8

Secretário da pasta diz que número de médicos no país é suficiente.

BRASÍLIA. O Ministério da Saúde reconhece que há dificuldade em se fixar os médicos em estados e localidades fora dos grandes centros e de regiões mais desenvolvidas do país. Para o governo, porém, o número de médicos existentes hoje é suficiente para atender toda a população. O secretário de Gestão do Trabalho e da Educação na Saúde, Francisco Eduardo de Campos, afirmou que o Brasil tem entre 15 a 20 médicos por cada dez mil habitantes, relação considerada confortável pela Organização Mundial de Saúde (OMS).

Francisco Campos reconheceu as dificuldades de estados como a Bahia de levar médicos para trabalhar, principalmente, nos municípios do interior. Ele afirmou que somente agora o estado tem um número razoável de faculdades de medicina, mas ainda insuficientes para dar conta de cobrir todo o interior:

- Há uma concentração de riqueza na Bahia maior que em outros estados. A diferença da capital para o interior é grande. O interior é muito pobre, o que dificulta a contratação de médicos.

Em mil cidades, não há presença regular de médicos

Para o secretário, há, em contrapartida, regiões com super-concentração de médicos. Ele citou o Rio e o interior rico de São Paulo. Segundo Campos, o Conselho Federal de Medicina (CFM) constatou que em cerca de mil cidades do país não há a presença regular e diária de um médico. O secretário apontou duas causas que afastam os médicos dos grotões do país.

- Tem profissional que não vai porque a cidade não tem vida social mesmo, não tem clube, não tem shopping. É a pressão da solidão. E, muitas vezes, ele é o único médico da cidade. Sua responsabilidade é muito grande e a cobrança também. Se ele transfere alguém para outro município, onde há melhores condições de tratamento, e se, no meio do caminho, esse paciente morre, vão culpá-lo por isso - afirmou Francisco Campos.

Campos afirmou ainda que o Brasil forma cerca de doze mil médicos por ano. Segundo ele, se 10% desse total de profissionais passassem dois anos nessas localidades, o problema estaria resolvido. A ausência de médicos no interior prejudica uma das principais ações do governo no atendimento à população de baixa renda. As equipes do Programa Saúde da Família em regiões mais longínquas enfrentam problema da falta de médicos nas equipes. O Ministério da Saúde detectou problemas em quase 500 cidades, e descobriu que há duplicidade na contratação. Ou seja, um médico trabalha em equipes em cidades distintas, o que é proibido. O repasse do dinheiro para essas cidades foi suspenso.