Título: Relator da ONU diz que Cabral incita a violência
Autor: Martins, Marília
Fonte: O Globo, 21/11/2007, Rio, p. 15

Governo do estado afirma que não defende o enfrentamento e que sua obrigação é garantir os direitos da população.

Marília Martins

NOVA YORK. Paulo Sérgio Pinheiro, relator especial da Organização das Nações Unidas (ONU) sobre a situação de direitos humanos em Mianmar, fez duras críticas ao governador Sérgio Cabral e à política de segurança do estado. Segundo ele, o posicionamento de Cabral a favor da política do enfrentamento é uma vergonha e tem repercussão internacional, prejudicando tremendamente a imagem do Brasil e do Rio.

- Eu fiquei muito constrangido com as declarações infelizes do governador, defendendo e até incitando a violência policial no Rio. Isto é uma vergonha e teve repercussão internacional. Ele não tem idéia do estrago que declarações deste tipo fazem ao país, não só junto aos órgãos da ONU mas em toda a comunidade internacional.

Cabral não quis comentar as afirmações do representante da ONU. Em nota, o governo afirmou que não defende nem nunca defendeu a violência policial. Afirmou que tem por obrigação garantir o direito de ir e vir dos cidadãos e, por conseguinte, os direitos da população. Por fim, o governo afirmou que, apesar de ser indesejável, o confronto tem se mostrado inevitável. E que, por isso, não irá recuar na política de segurança.

Relator da ONU critica miniatura do "Caveirão"

Pinheiro disse ainda que o Brasil é uma democracia que constantemente desrespeita os direitos humanos, como teria avaliado o relator especial da ONU sobre Execuções Arbitrárias, Sumárias e Extrajudiciais, Philip Alston, depois de visita ao Rio. Alston também criticou Cabral e atacou principalmente a operação no Complexo do Alemão em 27 de junho, que teve 19 mortos. Segundo ele, a ação mobilizou grande contingente policial, matou pessoas sem antecedentes criminais e teve resultado prático pífio:

- A visita do relator mostrou que o Rio está tomado por uma violência em que as pessoas perdem a noção dos direitos humanos. Eu soube aqui que deram de presente para ele uma miniatura de um carro blindado da polícia, conhecido como "Caveirão". Vejam o absurdo da situação: um relator da ONU visita o país e recebe esta miniatura de presente.

Antes da chegada de Philip Alston, Cabral afirmara que não estava preocupado com a visita do representante da ONU, uma vez que a política de seu governo é de defesa dos direitos humanos. Na época, Cabral disse que sua política de segurança seria incisiva para poder garantir os direitos das pessoas que moram nas favelas e que seriam vítimas de criminosos. Segundo ele, o combate à criminalidade seria, em última análise, uma defesa dos direitos humanos.

Semanas antes, Cabral rebateu críticas feitas pela Ordem dos Advogados do Brasil contra uma ação policial na Favela da Coréia, em 17 de outubro, que teve 12 mortes. Cabral disse que a polícia agiu corretamente e garantiu que os policiais continuarão a atuar com rigor contra o tráfico. Segundo ele, os moradores da favela apoiaram a polícia. Em tom irônico, lamentou que não possa usar de diplomacia com os traficantes:

- Se eu pudesse chegar para esses marginais e pedir: "Por favor, me devolva o seu fuzil; por favor, me devolva a sua .30, que derruba até helicóptero, e a granada. Vamos fazer um seminário para discutir a devolução desse armamento?" Aí, eu ficaria feliz da vida.

COLABOROU: Natanael Damasceno