Título: Brasil e Argentina vão fazer reatores nucleares
Autor: Oliveira, Eliane
Fonte: O Globo, 21/11/2007, Economia, p. 23

Em encontro esta semana, Lula e Cristina Kirchner acertaram também que desenvolverão um satélite em conjunto.

BRASÍLIA. O aprofundamento das relações Brasil-Argentina, decidido na segunda-feira durante o encontro entre os presidentes Luiz Inácio Lula da Silva e Cristina Kirchner - que tomará posse no próximo dia 10 de dezembro - terá como novidade a construção conjunta de pequenos e médios reatores nucleares. Os dois países disputariam, juntos, um seleto mercado que tem como grandes consumidores a Europa e parte da Ásia. A idéia foi revelada ontem pelo ministro das Relações Exteriores, Celso Amorim.

- Um reator de potência, de pequeno ou médio porte, seria uma coisa nova no relacionamento (entre os dois países). Não queremos só comprar e vender, mas ter um produto em conjunto - explicou o chanceler, acrescentando que brasileiros e argentinos também pretendem desenvolver um satélite conjunto.

Segundo Amorim, a integração bilateral caminhará ainda a passos bem mais largos do que os dados até agora. A começar pela criação de uma espécie de "conselhão" de ministros dos dois países, que passarão a ser reunir duas vezes por semestre. Nessa comissão de alto nível, enfatizou o chanceler, serão criadas subcomissões com temas variados, como energia, defesa, segurança, economia e comércio.

Países poderão ter moeda comum antes dos parceiros

Será com base nesse organograma que os dois principais sócios do Mercosul poderão chegar a uma moeda comum num período mais curto do que com os demais associados (Paraguai e Uruguai).

- A desdolarização (comércio bilateral em peso ou real) do comércio, que deverá ocorrer no início do ano que vem, fará com que haja o intercâmbio em moedas locais em boa parte das transações. É algo importante e pioneiro, um passo para uma moeda comum a médio prazo. Claro que não é uma coisa que vá ocorrer agora - afirmou o ministro.

Amorim destacou que, no caso do "conselhão", a medida não é inédita, uma vez que uma estrutura semelhante já existe com a Venezuela. A questão é que, de acordo com Amorim, os ministros brasileiros e venezuelanos não se reúnem com a freqüência desejada.

Ele acrescentou que o governo brasileiro reforçou, durante a reunião ampliada de Lula e Cristina, que incluiu ministros do Brasil e da Argentina, a alta prioridade dada à integração energética na América do Sul. Ele citou como exemplos a hidrelétrica binacional de Garabi, a ser construída no Rio Uruguai, e a possibilidade de exploração conjunta de petróleo em águas profundas pela Enarsa e a Petrobras.

Petrobras pode ser usada para investir na região

A Petrobras, aliás, tem sido cada vez mais usada como instrumento de integração na América do Sul. É uma empresa que pode investir em outros países, ao contrário do BNDES que, segundo Amorim, tem restrições estatutárias. Como o banco é impedido de financiar projetos de empresas estrangeiras, o ministro acredita que uma saída para o BNDES seja emprestar dinheiro para joint ventures envolvendo firmas brasileiras.