Título: Presidente do Ipea diz que órgão vai fazer convênio com área acadêmica
Autor: Beck, Martha; Almeida, Cássia
Fonte: O Globo, 21/11/2007, 25, p. 25

Medida é anunciada em meio à polêmica sobre afastamento de economistas.

BRASÍLIA e RIO. O presidente do Instituto de Pesquisa Econômica Aplicada (Ipea), Márcio Pochmann, afirmou ontem que vai fechar convênios com universidades e instituições de pesquisa que enriqueçam o trabalho de planejamento de longo prazo do governo. A informação foi dada como forma de rebater rumores de que o governo queria afastar a PUC-Rio e a Fundação Getulio Vargas (FGV) - onde predominaria um pensamento ortodoxo - dos acordos fechados pelo órgão, conforme noticiou o colunista Ancelmo Gois no fim de semana.

Na semana passada, quatro economistas - Fábio Giambiagi, Otávio Tourinho, Gervásio Rezende e Regis Bonelli - foram afastados de seus cargos no Ipea, e há suspeitas de que a decisão se deveu ao fato de terem visões contrárias à atual linha defendida pela equipe econômica.

- Já fizemos reunião com a Andifes (Associação Nacional dos Dirigentes das Instituições Federais de Ensino Superior), com o presidente do Crub (Conselho de Reitores das Universidades Brasileiras) e com as instituições de pesquisa estaduais. Vamos estabelecer uma rede de parcerias com universidades e instituições de pesquisa para ampliar a capacidade de investigação. Isso significa que o Ipea está trabalhando para ter coordenação das investigações que ocorrem no Brasil e, com isso, melhores condições de desenvolver um trabalho de planejamento - disse Pochmann.

Ele voltou a afirmar que Giambiagi e Tourinho foram afastados dos cargos porque são funcionários do BNDES e estavam no Ipea por meio de convênios que venceriam no fim do ano. Segundo Pochmann, o Ipea quer fazer parcerias com o banco de fomento que sejam mais amplas e não tratem apenas de macroeconomia, como vinha ocorrendo até agora.

- Estamos discutindo com o BNDES a realização de convênios mais amplos. Já que o BNDES é um banco de desenvolvimento econômico e social, queremos envolver estudos sociais, estudos regionais, urbanos e setoriais. Vai ser uma coisa muito mais ampla do que existe atualmente, que se resume a duas pessoas (Giambiagi e Tourinho), cujo produto era apenas apresentar um trabalho sobre o papel do BNDES no financiamento do desenvolvimento - explicou Pochmann.

Sobre o afastamento de Gervásio Rezende e Regis Bonelli, Pochmann afirmou que os dois estão se aposentando e não poderiam continuar no quadro do Ipea. Segundo ele, o argumento de que estaria havendo algum tipo de perseguição ideológica no Ipea é "absurdo".

- Aqueles que argumentam no sentido de que houve perseguição ideológica ou desconhecem as regras administrativas ou, se conhecem, defendem que o Ipea pratique improbidade administrativa.

Segundo Pochmann, existem hoje cerca de 200 servidores que também terão de se aposentar no próximo ano. No entanto, uma forma de mantê-los ligados ao Ipea ainda está sendo estudada pela diretoria. Ele afirmou também que cinco dos sete cargos ligados à diretoria do instituto passaram por trocas com a sua chegada.

- Nos 43 anos do Ipea, toda vez que houve mudanças de presidência, houve mudanças de diretoria. Considerando que o cargo de chefe de gabinete é cargo de confiança, cinco já foram modificados. São pesquisadores, professores universitários. Isso não tem nada de ideológico.

Economia da UFF vota hoje moção de protesto

Em reunião do Departamento de Economia da UFF marcada para hoje, os professores vão decidir se apresentam moção de protesto contra o afastamento do economista Gervásio Rezende, professor aposentado da universidade. A idéia foi do professor Airton Queiroz, que foi acompanhado por Claudio Considera, ex-diretor do Ipea, e Carlos Guaziroli.

- A situação dele no Ipea é absolutamente legal. Ele só usava a sala e o nome do instituto. Não ganhava um tostão. Queremos protestar pela maneira como o professor foi tratado. E vamos trazê-lo de volta à UFF - diz Considera.

Já a ex-diretora da Faculdade de Economia Ruth Dweck diz ser contra a moção e acredita que o afastamento foi puramente uma medida administrativa:

- Esse assunto não diz respeito à instituição. Até acho que a forma como as coisas foram feitas não estão corretas, mas é uma opinião minha, não da instituição. Não podemos misturar as coisas.